Após passar a ser tratado como o articulador do governo da reforma da Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (8) que não tem temperamento ou pretensão de ser coordenador político.
No mês passado, depois de uma série de atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Guedes chamou para si as negociações pela aprovação da proposta do governo.
Uma rodada de reuniões com bancadas foi organizada pelo ministro na última semana, quando ele recebeu parlamentares do PSL e PSD em seu gabinete.
"Eu não tenho a pretensão de ser coordenador político. Vocês viram meu desempenho lá", afirmou Guedes nesta segunda, em referência à audiência pública na Câmara, na semana passada, que foi marcada por tom agressivo do ministro em uma reunião que foi encerrada antes da hora, com bate-boca e confusão.
"Não tenho propriamente um bom temperamento para fazer essa função", ressaltou, em seminário organizado pelos jornais O Globo e Valor Econômico.
De acordo com o ministro, a coordenação da reforma da Previdência está a cargo do secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho.
Na avaliação do ministro, a melhora no ambiente e na relação entre governo e Congresso na última semana foi um "choque de acomodação".
"Uma lei básica de relacionamento é respeitar para ser respeitado. Se o presidente não respeitar a política, a política não vai respeitá-lo", disse.
No encontro, Guedes voltou a afirmar que a proposta de mudança nas regras de aposentadoria combate privilégios.
"Nossa reforma vai em cima de quem ganha mais. No final, um gari e um deputado vão terminar do mesmo jeito", afirmou.
O presidente da Câmara também participou do seminário e disse que não fará mais comentários sobre prazos ou número de votos para o projeto da Previdência porque foi mal compreendido quando mergulhou na articulação da reforma.
"Agora eu não tenho mais as condições que eu tinha um mês atrás de ser um articulador político", afirmou.
Maia defendeu a aprovação da PEC do orçamento impositivo, votada na Câmara como um recado ao Executivo, e afirmou que como o governo quer ser distante do Parlamento, é normal que o Legislativo tente recobrar suas prerrogativas.
"A discussão é essa: cabe ao Parlamento recompor as suas prerrogativas num governo que entende que a relação tem que ser mais distante do que os anteriores?", afirmou. "Se nós vamos governar de forma mais distante, eu respeito."
Maia também criticou o uso de medidas provisórias e disse que o instrumento pode funcionar como interferência do Executivo no Legislativo.