A montadora japonesa Nissan convocou para esta segunda-feira o conselho de administração com o objetivo de nomear um substituto para seu presidente destituído, Carlos Ghosn, mas a tarefa deve ser complicada pelas pressões da Renault, a principal acionista do grupo.
Um mês depois da detenção por sonegação fiscal do homem forte da aliança, que está sendo investigado e continua preso, a situação entre os dois sócios está longe da unidade que desejam transmitir ao mercado.
A Nissan, também acusada no caso como pessoa jurídica, recebeu uma carta da empresa francesa com o pedido de convocação de uma assembleia geral de acionistas o mais rápido possível.
O diretor geral da Renault, Thierry Bolloré, considera que a "acusação cria riscos importantes para a Renault, como principal acionista da Nissan, e para a estabilidade de nossa aliança industrial".
A assembleia geral permitira "falar de governança e de outros temas, como pessoas indicadas pela Renault no conselho de administração da Nissan e nos altos cargos", afirma a mensagem.
A aliança entre Renault e Nissan também inclui a Mitsubishi Motors e representa o maior grupo automobilístico mundial.
A Renault, que salvou a Nissan da falência, possui 43,4% da montadora japonesa, que por sua parte detém 15% da empresa francesa, mas sem direito a voto.
Ao longo dos anos, os rancores foram se acumulando na montadora japonesa com o desequilíbrio. Embora alguns executivos tenham o objetivo de aproveitar a queda de Ghosn para revisar os termos da aliança, a Nissan e seu presidente executivo, Hiroto Saikawa, parecem enfraquecidos no momento, ainda mais levando em consideração que o grupo foi afetado por um escândalo relacionado à inspeção de veículos.
"O caso Ghosn" revelou as carências de governança da empresa, com uma questão central: como a Nissan não descobriu ou denunciou antes os "atos graves" que agora atribuiu a Carlos Ghosn?
O poderoso executivo está sendo processado por ter ocultado das autoridades da Bolsa Japonesa quase 5 bilhões de ienes (38 milhões de euros) de seus rendimentos durante cinco anos, de 2010 a 2015. Também é suspeito de ter feito o mesmo entre 2015 e 2018 por um valor de 4 bilhões de ienes (31,1 milhões de euros).
A Nissan também o acusa de usar ilicitamente residências de luxo pagas pela empresa em várias cidades. Uma delas, no Rio de Janeiro, é objeto de um processo. A montadora japonesa suspeita que a família Ghosn pode ter em sua posse documentos importantes.
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