Em clima de final de ano, vale acreditar em Papai Noel. Ou em banqueiro bonzinho. Ontem, em São Paulo, no almoço de fim de ano da Federação Brasileira dos Bancos, com a presença do Ministro da Fazenda, Eduardo Guadia, e do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e diretores, o presidente da Febraban, Murilo Portugal, fez uma profissão de fé no crescimento da economia, com a ajuda decisiva de queda mais substancial dos juros. Como se ela não dependesse dos bancos.
No governo Michel Temer, a taxa básica de juros caiu de 14,25% ao ano (maio de 2016) para 6,50% (desde março de 2018), uma redução de 54,39%. De dezembro de 2016 até outubro de 2018, segundo dados do Banco Central, contudo, os juros bancários médios na faixa com recursos livres baixou apenas de 25,7% ao ano para 19,7% ao ano (queda de 23,34%) para as pessoas jurídicas (empresas), enquanto para os empréstimos livres tomados por pessoas físicas cederam ainda menos, de 50,4% para 44,3%, uma redução de 12,10%.
A visão da Febraban
Para um crescimento mais robusto da economia brasileira será preciso uma queda mais forte dos juros, disse presidente da Febraban, Murilo Portugal. “A função dos bancos é emprestar para financiar a produção, o consumo e o investimento. Quem empresta quer emprestar para o maior número de pessoas e empresas, aumentando o volume de negócios e reduzindo os riscos. Quanto menores forem os juros, mais pessoas poderão usar o crédito”, disse no almoço em que os dois lados da mesa saboreavam o montante de R$ 317,2 bilhões de juros da dívida interna pagos até outubro pelo Tesouro aos rentistas que têm forte posição direta dos bancos (via Tesourarias) e indireta (via administração dos fundos de investimento em renda fixa). Em 12 meses a conta foi de R$ 379,7 bilhões, (R$ 414,2 bilhões em outubro de 2017).
Portugal afirmou ainda que houve avanços no âmbito do ajuste fiscal em dois anos e que a expectativa é de que uma reforma da previdência possa ser alcançada em 2019. Ele lembrou que 2018 foi o 2º ano de recuperação do crescimento econômico após uma das mais profundas recessões da história do Brasil, mas o crescimento ficou aquém do que se esperava no final de 2017. “Mas vimos a partir de outubro um afrouxamento das condições financeiras, com queda das taxas de juros de mercado, apreciação do Real, elevação da bolsa de valores e dos preços de ativos brasileiros, e uma melhora dos indicadores de confiança de empresários e consumidores que já se refletem em sinais de aceleração da atividade econômica e do emprego”, destaca.
Segundo ele, o mercado de crédito continua em gradual recuperação, influenciado pelo crédito livre aos consumidores. A projeção, destacou, é de que expansão do crédito deve se acelerar em 2019 com o crescimento do PIB.
Negando a verticalização
Em entrevista após o almoço disse que a estrutura de verticalização (cinco bancos dominam mais de 80 dos meios de pagamento) não é um problema para o setor financeiro e ajuda a reduzir custos. “A verticalização é uma característica do setor. Ajuda a reduzir custos e a garantir serviços”, acrescentando que outros setores, como o de petróleo (sic), também atuam de forma verticalizada. “O problema é quando há falta de competição”, destacou.
As afirmações de Portugal ocorrem em meio à aprovação do relatório sobre spreads bancários no Brasil, cujo relator é o senador Armando Monteiro (PTB-PE), que trouxe um diagnóstico de que existe uma “forte verticalização” no setor de meios de pagamento. Uma das soluções sugeridas no documento é proibir que um mesmo grupo financeiro seja controlador de empresas que atuam em todos os elos do sistema de cartões, caso do Bradesco e do Banco do Brasil, sócios da Cielo, do Itaú, na Visanet e no Credicard, e do Santander, na GetNet.
O presidente da Febraban disse que a entidade não trata especificamente deste segmento, mas defendeu a verticalização do setor financeiro. Executivos de bancos presentes também defenderam a estrutura atual como uma vertente de redução de custos no sistema e, consequentemente, preços mais baixos aos consumidores.