ASSINE
search button

Medo de confisco gera saques na caderneta

Véspera da eleição fez investidor sacar da dívida pública e poupança

Arte JB -
Fuga da dívida pública
Compartilhar

Quem entende de economia é o “Posto Ipiranga”, Paulo Geudes, mas quando o assunto é sensibilidade política, quem dá as cartas é o presidente eleito, Jair Bolsonaro. Na campanha eleitoral, o economista Paulo Guedes falou, em conversas a investidores, da sua intenção de renegociar prazos e condições da dívida interna quando conseguisse um robusto ajuste fiscal, com auxílio da reforma da Previdência e da privatização de estatais.

Esta semana, Guedes voltou a falar do tema. Ontem, o presidente eleito negou qualquer intenção de renegociação da dívida interna. E ainda repreendeu a Guedes por ter sugerido uma “prensa” para os atuais deputados aprovarem a reforma da Previdência, que precisa de 308 votos.

Macaque in the trees
Fuga da dívida pública (Foto: Arte JB)

Os dados divulgados ontem pelo Banco Central sobre a movimentação da caderneta de poupança em outubro mostram que os temores de mudanças nas regras do jogo, que já haviam deixado ressabiados em setembro grandes investidores em papéis da dívivida pública, que reduziram em R$ 6,2 bilhões o saldo da dívida pública, contagiaram pequenos, médios e grandes depositantes da poupança no mês passado.

Após sete meses seguidos de resultado positivo, os saques na caderneta de poupança superaram os depósitos, gerando retirada líquida de R$ 2,532 bilhões em outubro. Segundo o BC foram depositados R$ 194,435 bilhões e sacados R$ 196,968 bilhões. Desde março a captação estava mensalmente positiva. Mesmo com a retirada líquida em outubro, no acumulado dos 10 meses deste ano, os depósitos na poupança superaram as retiradas em R$ 22,968 bilhões. Em outubro, os rendimentos chegaram a R$ 2,950 bilhões. O saldo atualmente depositado em cadernetas ficou em R$ 776,192 bilhões.

Saques e eleição

A evolução diária dos saques e depósitos da poupança (com balanço feito no dia seguinte) não deixa dúvidas. O maior volume de saques líquidos R$ 3,970 bilhõesse deu às vésperas do 1º turno (a eleição foi dia 8, domingo, mas a contabilização se deu dia 9, segunda-feira). Dia 11 houve saques de R$ 2,639 bilhões. No dia seguinte ao 2º turno (29), saques de R$ 1,955 bilhão.

Segundo os dados da Secretaria do Tesouro Nacional, em, setembro, a dívida pública federal encolheu de R$ 3,785 trilhões em agosto, para R$ 3,779 trilhões, com redução de R$ 26,7 bilhões nas emissões contra a incorporação de R$ 20,5 bilhões de juros na rolagem da dívida, cujo estoque encolheu R$ 6,18 bilhões.

Na decomposição do resultado de setembro, as instituições financeiras, que carregavam 22,9% do estoque em agosto, reduziram a posição em R$ 4 bilhões em setembro, para 22,8%. As tesourarias dos bancos usam títulos públicos para garantir liquidez a eventuais saques nas cadernetas de poupança, que têm parte dos depósitos lastreados em papéis públicos (razão de estender o confisco do governo Collor à poupança). Os fundos de investimentos (de renda fixa e DIs) que são os maiores tomadores de títulos públicos (26,3% em agosto) sacaram R$ 5,8 bilhões e reduziram a fatia para 26,1%.

Macaque in the trees
Caderneta de poupança (Foto: Arte JB)

Temor dos estrangeiros

Os maiores saques vieram dos investidores residentes no exterior (que inclui aplicações de brasileiros em empresas off shores), com saques de R$ 9,2 bilhões que fizeram seu quinhão cair de 11,9% para 11,7% do total da dívida. O Tesouro conseguiu captação positiva dos fundos de previdência (abertas, fundos tipo VGBL e PGBL, e fechadas, os fundos de pensão), com mais R$ 8 bilhões, ampliando a participação para 25,4% do total da dívida.

Arte JB - Caderneta de poupança