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Após vitória, confusão na Previdência

Bolsonaro fala em reforma ainda este ano e bate cabeça com Onyx Lorenzoni, para quem mudança fica para 2019

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Como Bolsonaro, Onyx Lorenzoni foge de perguntas sobre economia e recomenda Paulo Guedes
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Um dia após vencer a eleição, o grupo político de Jair Bolsonaro repetiu as contradições da campanha e deu declarações divergentes sobre a reforma da Previdência. Pela manhã, o provável chefe da Casa Civil do governo eleito, Onyx Lorenzoni, disse que Bolsonaro não vai insistir na reforma que Michel Temer tenta aprovar há quase dois anos no Congresso. À noite, em pelo menos duas entrevistas para canais de televisão, Bolsonaro disse exatamente o contrário. “Semana que vem buscaremos, junto ao atual governo, aprovar alguma coisa do que está em andamento lá, como a reforma da Previdência. Senão tudo, parte do que está sendo proposto, porque evitaria problemas para o futuro governo”, disse à TV Record.

Antes, Lorenzoni havia dito que o projeto atual é “um remendo com objetivo de fazer um ajuste que não duraria cinco anos”. O deputado federal reeleito pelo DEM defendeu que a mudança seja pensada e negociada pelo novo governo de uma só vez, sem a aplicação de pacotes e mirando um ajuste para os próximos 30 anos. Em dissonância, Bolsonaro falou expressamente em fazer a reforma por partes, começando ainda esse ano.

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Como Bolsonaro, Onyx Lorenzoni foge de perguntas sobre economia e recomenda Paulo Guedes (Foto: Reprodução)

Segundo Lorenzoni uma das premissas do novo projeto de reforma será a separação entre as contribuição direcionada à rede de proteção social e aquela recolhida para assegurar aposentadorias. “Isso precisa ser feito para a sociedade poder entender o que dos impostos pagam a rede de proteção social, afirmou Lorenzoni. “A gente tem que construir uma proposta que possa não apenas consertar a Previdência Social brasileira mas estimular a poupança interna”, disse.

A previdência é item prioritário na agenda do economista Paulo Guedes, futuro super ministro da economia do novo governo. Assim como o próprio presidente eleito tem feito, Lorenzoni encaminhou boa parte das questões levantadas para o “Posto Ipiranga” do grupo. Ele voltou a dizer que o Banco Central deve ser independente, mas com metas que ele não sou precisar. “A decisão não é minha, é do Paulo Guedes”, disse. O mesmo com relação à política cambial. “Esta é uma conversa que vocês vão ter com Paulo Guedes objetivamente”, desconversou.

Mesmo sem saber como, garantiu que o governo Boslonaro “mudará completamente a gestão pública”. Lorenzoni e os demais homens de confiança de Bolsonaro se reunem hoje com Guedes para alinha o discurso e definir as diretrizes econômicas da gestão, além de indicações para cargos estratégicos.

Cobrança que vem a galope

Sozinha, a Previdência registrou um déficit de R$ 31,472 bilhões em setembro, um recorde para o mês, que foi o principal vetor do rombo para as contas da União. Ontem, um dia após a eleição, as principais agências de classificação de risco, Moody’s e Fitch, já cobraram do novo governo atenção à agenda de reformas, com destaque para a Previdência.

A vice-presidente da Moody’s, Samar Maziad, afirmou que a aprovação de “uma boa reforma” no próximo ano pelo Congresso “será positiva a avaliação de crédito de rating do Brasil”. Em caso de rejeição, lembrou, haverá impacto negativo para fatores como confiança e investimentos. Ela pressionou para que as prioridades do futuro governo sejam “o corte de gastos, as reformas fiscais e projetos de infraestrutura com marcos regulatórios eficientes”.

Já para a Fitch, o alerta é sobre como uma implementação “fraca” de reformas estruturais, como a da Previdência, poderia minar a confiança de investidores no país, aumentar os custos de empréstimos e afetar “adversamente” a perspectiva de médio prazo para o crescimento. O relatório menciona que o forte apoio eleitoral ao capitão reformado e ao seu partido poderiam “impulsionar” o capital político do novo governo e habilitá-lo a construir uma maioria legislativa se partidos centristas oferecerem apoio. No entanto, pondera, é “incerto” quão efetivamente o novo governo conseguirá usar o “período de lua de mel” nos primeiros meses de mandato para priorizar e aprovar sua agenda econômica. À luz desses comentários, a Fitch projeta que o crescimento real do PIB brasileiro fique “logo acima” de 1% em 2018 e atingir 2,2% em 2019 e 2,7% em 2020.

De acordo com o Itau Unibanco, “Um cenário fiscal favorável é estritamente dependente da aprovação de reformas, como a da Previdência, que sinalizem o retorno gradual a superávits primários compatíveis com a estabilização estrutural da dívida pública”. De agosto para setembro, a dívida líquida do setor público subiu 1 pp, alcançando 52,2% do PIB. Já a dívida bruta do governo geral teve um ligeiro recuo de 77,3% para 77,2% do PIB nos mês passado. (Com agências)