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Riad rejeita as ameaças de sanções pelo caso do jornalista e mercados reagem

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A Arábia Saudita rejeitou neste domingo qualquer ameaça de sanções ligadas ao desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, e ameaçou contra-atacar em caso de medidas hostis, um dia depois que o presidente americano Donald Trump prometeu um "castigo severo" caso Riad esteja por trás desse caso.

"O Reino afirma que rejeita qualquer ameaça ou tentativa de enfraquecê-lo, através de ameaças de sanções econômicas ou por pressão política", afirmou um funcionário que pediu anonimato, citado pela agência oficial SPA.

A fonte disse que Riad "responderá a qualquer medida com uma medida ainda maior", e lembrou que a superpotência petrolífera saudita "desempenha um papel vital e efetivo na economia mundial".

Trump ameaçou no sábado dar a Riad uma "severa punição" caso o reino esteja envolvido no caso Khashoggi, que supostamente teria sido morto por agentes sauditas.

Jamal Khashoggi, um jornalista crítico do poder de Riad e colaborador, entre outros, do Washington Post, foi no dia 2 de outubro ao consulado saudita em Istambul para obter um documento necessário para seu futuro casamento.

Desde então desapareceu e seu paradeiro é um mistério. Riad, que é suspeita de ter prendido, torturado e assassinado o jornalista, nega categoricamente qualquer envolvimento.

A Turquia, por sua vez, também acusou a Arábia Saudita de não cooperar nas investigações em torno do desaparecimento e, especialmente, de não deixar os investigadores entrarem no consulado.

Uma delegação saudita deve se reunir em Ancara com autoridades turcas no âmbito da investigação do desaparecimento de Khashoggi.

Um dissidente saudita refugiado em Quebec assegurou que as autoridades de Riad hackearam seu telefone e ouviram suas conversas com Jamal Khashoggi sobre projetos conjuntos contra o regime, pouco antes de seu desaparecimento.

"Tenho certeza que escutaram a conversa que eu tive com Jamal e outros ativistas do Canadá, dos Estados Unidos, da Turquia, da Arábia Saudita", disse Omar Abdulaziz em uma entrevista ao canal canadense CBC.

O desaparecimento do jornalista saudita, que causou grande preocupação global, pode ter consequências significativas para o programa de reformas, especialmente as reformas econômicas, promovidas pelo príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salmán.

O mercado de ações em Riad caiu drasticamente neste domingo, registrando seu menor nível em três anos. Os investidores sauditas reagiram principalmente às declarações de Trump.

O caso Khashoggi parece ter arrefecido o entusiasmo que os investidores mostraram até uma semana atrás pelos projetos econômicos faraônicos do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman.

"Há um tipo de incerteza sobre a situação do desaparecimento de Khashoggi, que faz com que o mercado caia", explicou Mohamed Zidan, analista de estratégia da Thinkmarket em Dubai.

O bilionário britânico Richard Branson anunciou a suspensão de vários projetos no reino.

Além disso, vários parceiros de renome anunciaram que não participarão do "Davos do deserto", a segunda edição da conferência "Future Investement Initiative", que srá organizada em Riad entre os dias 23 e 25 de outubro.

Também retiraram seu apoio ao evento, que é altamente valorizado por Mohamed bin Salmán, meios de comunicação como o Financial Times, o New York Times e The Economist, bem como o CEO da Uber.

Do lado saudita, um poderoso empresário dos Emirados Árabes, Jalaf Al Habtoor, pediu aos países do Golfo e aos aliados de Riad que boicotem as empresas que se retirarem deste encontro.

"O fato dos participantes de primeiro escalão se retirarem do evento também teve um impacto negativo na atitude dos investidores", explicou o analista Mohamed Zidan.

Na quinta, o índice TASI saudita perdeu 3%, seguindo a onda de pânico global que afundou Wall Street e os mercados asiáticos.

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