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Pag. 20 - Lendas e controvérsias

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“Quando a lenda for mais interessante do que a realidade, imprima-se a lenda” F oi num estábulo, segundo as narrativas cristãs, que Jesus nasceu, entre os anos 2 e 6 a.C. Esta data curiosa deve-se ao famoso erro de um monge chamado Dionísio (século 6), que se perdeu nos cálculos no momento de definir o ano 1 de nossa era.

Ele nasceu num estábulo porque sua família, tendo viajado de Nazaré a Belém para atender ao censo determinado pelo imperador romano, encontrou a pequena Belém com as hospedarias lotadas. O abrigo que restou foi uma gruta utilizada por animais. Por isso, o presépio representa Jesus deitado numa manjedoura, espécie de cocho, onde comiam um burro e um boi, que aparecem a seu lado.

Um portal português comentou a visita dos reis magos: “O que se teria passado se, em vez de três Reis Magos, tivessem sido três Rainhas Magas? Teriam perguntado como chegar ao local e teriam chegado em tempo. Teriam ajudado no parto e deixado o estábulo a brilhar. Teriam ainda preparado uma panela de comida e teriam trazido ofertas mais práticas.

Mas quais teriam sido os seus comentários ao partirem? – Viste as sandálias que a Maria usava com aquela túnica? O menino não se parece nada com o José! Como é que é pos sível que tenha todos esses animais imundos a viver dentro de casa? Disseram-me que José está desempregado! Queres apostar em como não te devolvem a panela?”. De todo modo, os magos não eram três, nem reis, nem tinham nomes, de acordo com os Evangelhos; no entanto, ficaram para sempre numa das mais encantadoras lendas cristãs.

Lucas diz que Jesus nasceu em Belém porque Maria, nos últimos dias de gravidez, estava em viagem, justamente para cumprir o censo que determinava o decreto do imperador, ordem que o governador Quirino, da Síria, tinha que executar. As informações deveriam ser prestadas na cidade natal do declarante, no caso, São José. Belém fica a 150 km de Nazaré. Na época, a distância era percorrida em quatro ou cinco dias, provavelmente em caravana de camelos.

Os três reis magos que aparecem no presépio tiveram seus nomes formados a partir das iniciais de pedido de bênção que católicos alemães punham à entrada das casas: Christus Mansionem Benedicat (Cristo abençoe a casa). As iniciais C, M e B resultaram em Gaspar; em alemão, Caspar; Melquior e Baltazar. Os restos mortais dos três estão, desde 1164, na famosa catedral de Colônia, na Alemanha, ao lado do altar principal. Ninguém sabe de quem são aqueles ossos, mas eles compõem uma das mais sólidas lendas cristãs que o povo consagrou. Mateus diz que, quando nasceu Jesus, vieram a Jerusalém uns magos do Oriente para visitá-lo. Não diz que eram três, nem que eram reis. Eles seguem uma estrela de brilho extraordinário que lhes indica o caminho.

A estrela talvez fosse Júpiter se aproximando de Régulo, a estrela mais brilhante da constelação de Leão. Segundo os astrônomos, uma dessas aproximações ocorreu no ano 3 a.C.

Como diz o personagem de Edmond O’Brien no filme O Homem que matou o fascínora , de 1962, dirigido por John Ford, “quando a lenda for mais interessante do que a realidade, imprima-se a lenda”! Para quem tem ou não tem fé, esses detalhes e curiosidades dão um tempero todo especial ao que os Evangelhos narraram sobre o Natal! Além de escritor, Deonísio da Silva é professor, doutor em letras pela USP e pró-reitor de cultura e extensão da Universidade Estácio de Sá, no Rio.