O diretor, roteirista, fotógrafo e montador Otávio Cury inicia bem seu documentário que tenta traçar um paralelo sobre a relação entre homens brancos e indígenas nos dias de hoje, sendo a ponte entre eles os profissionais de saúde de ambos os lados que mostram seu trabalho e dão seus depoimentos sobre esse contato, que em alguns casos mostrados duram já uma década.
Quando o filme entra no assunto que o título prenuncia, já estamos na metade da curta duração (70 minutos), mas parece que o filme ganha fôlego. Os índios yanomamis, assim como muitas outras tribos, têm uma relação temerosa com os atos de fotografar e filmar, sempre associando a atividade a valores negativos ancestrais, que incluiriam o roubo de suas essências para a imagem capturada. Tais sequências elevam o filme e o justificam junto com outras sequências, como as que mostram o despreparo dos profissionais em suas funções no âmbito social.
No entanto, o filme escorrega completamente no final, quase se transforma num institucional da Funai, abandona suas qualidades e passa a apresentar momentos inexplicáveis, como a execução do “Hino Nacional” inteiro se sobrepondo a paisagens florestais e tribos em tomadas aéreas. Um pecado quase mortal para um objeto de discussão tão interessante sendo abandonado.
*Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ)
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CAPTURA DE UM POVO: ** (Regular)
Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom
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