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O Dragão vira festival

Semana de moda cearense amplia o conceito e valoriza o artesanato regional

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FORTALEZA - A 19ª edição do Dragão Fashion Brasil demonstrou ser possível realizar um bom evento de moda, com custo pequeno e apoios efetivos, principalmente do governo local. Investindo apenas R$ 2 milhões, conforme anunciou o líder do evento, Claudio Silveira _ quando, em geral, os gastos costumam atingir de R$ 8 a 10 milhões nas semanas de moda do Sudeste _ conseguiu transformar o que há 19 anos era uma pequena mostra de coleções autorais no Centro Cultural Dragão do Mar em um festival incluindo shows musicais, gastronomia, palestras, workshops, no imponente terminal marítimo de Fortaleza. 

Além do mérito desta mágica, a família Silveira _ Claudio, Helena, João _, apresentou respeitável agenda de desles com marcas locais e de outros estados. Neste ponto, aguarda-se melhora para as próximas edições: reduzir o som ensurdecedor das duas salas e, se a agenda continuar a crescer, antecipar e aumentar os intervalos no horário dos desles. No mínimo, para a plateia que faz questão de assistir a tudo, tenha tempo de ir ao banheiro!

Destaques das coleções 

Uma das vantagens do Dragão está na atenção dada à moda masculina. Nada de ternos e alfaiataria sóbria: a maioria apresentou referências no sportwear, corrente que ronda toda a moda atual, como fez Fabio Caracas. O luxo dos longos chamou a atenção em Ivanildo Nunes. Mas, em matéria de rendas, o grande luxo local, vale acompanhar o trabalho de Almerinda Maria e da Rendá, mestras no emprego dos bordados Richelieu, das rendas Renascença e labirintos, que tiram o ranço dos trabalhos artesanais com doses certas de design moderno e sensualidade.

Valores elegantes também participaram da apertada agenda de desles, como Gisela Franck, com camadas de organza recortadas com ores a laser, Rebeca Sampaio e seus vestidos de linho, inspirados no estilo tropicalizado das inglesas. A grife Tanden marcou pelas saias em camadas arredondadas, os looks de calças de seda e as capas em laranja ou no clássico bege. Estilo denido na plateia como “quero tudo, do rabo de cavalo aos sapatos de salto sabrina”. Lembrando o glamour dos anos 1980, com um toque de ierry Mugler daquela década, Wagner Kallieno também entra no rol dos elegantes, assim como Herculano Marques, com suas alças voadoras, que ultrapassam os ombros.

O lance artesanal supera os trabalhos regionais, sempre contando com as equipes capazes de nervurar e recortar tecidos. Um exemplo que impressionou foi Ronaldo Silvestre, por manipular o jeans de formas variadas, ao som de Chico Buarque. Neste mesmo caso, do artesanal requintado, a surpreendente moda praia de Fortaleza. Só as coleções da Hand Lace e da Bikini Society já valeram o turbulento voo de três horas do Rio até Fortaleza: na primeira, as indecifráveis tramas criadas por Edna Moreira, a partir da referência nas cobras jiboias; na segunda, proezas como as tramas de biquínis e maiôs feitas com rolotês de Lycra. As duas marcas merecem entrar na lista do legítimo beachwear brasileiro.

Nas estampas, valeu desde padrões lembrando chitas, misturadas com cores fortes, por Ivanovick até a coerência de montar toda a coleção com o preto e branco lembrando Op Arte, na série masculina e feminina, inspirada nos esportes radicais, do Fabio Caracas. Há também inuências geométricas, como nos looks deIury Costa. Kallil Nepomuceno usou a estampa oral que assinou para a Attivitá em todos os modelos da coleção, uma das mais bonitas da semana.

O valor dos novos

O Dragão, incentiva a criatividade e a originalidade, reunindo alunos de faculdades de moda em um concurso. Segundo Claudio Silveira, “as escolas devem apoiar os alunos, ajudar nos projetos ou mesmo nas passagens e hospedagem dos participantes”. Até deu orgulho de saber que a carioca Estácio de Sá cumpriu este papel, apoiando os alunos que mostraram roupas complicadas, bem trabalhadas e interessantes do ponto de vista criativo. O projeto com roupas multicoloridas, inspiradas em Bispo do Rosário, todo em rolotês feitos a partir de restos de malhas, com inserções de palavras bordadas em ponto correntinha, deu ao grupo do Senac Sergipe a vitória.

Irreverentes e viajantes

Em toda semana de moda há lugar para as ideias mais irreverentes e manifestações conceituais. Foi o caso do Lindebergue, que combinou palavras de ordem com fofuras, como nas camisetas onde se lia “contém gente” e criou modelos em vinil com peitos e órgão sexuais desenhados nos lugares respectivos. Calças irrepreensíveis de alfaiataria deram o recado do que será usado por quem não tem coragem de sair com tanta manifestação pelas ruas.

Um dos integrantes da agenda já vai para fora do Brasil. David Lee, cearense vencedor do concurso realizado pela grife carioca Reserva, embarca para se apresentar em Londres. O nal do Dragão Fashion Brasil Festival contou com show de Karol Conka e desle do inverno da rede Riachuelo, patrocinadora do evento. A moda jovem, quase toda em preto e branco, inclui um estilo bem parisiense, com casacos de tweed e muitas pérolas _ até nas botinhas. 

O Dragão manda usar: grandes mangas arredondadas; amarrados; pantalonas e macacões; inuência esportiva; orais estilo inglês; botões (há tempos estavam sumidos das coleções); branco e vermelho.