"Depois da Chuva", primeiro longa de Cláudio Marques e Marília Hughes, estreia nacionalmente dia 15 de janeiro de 2015, simultaneamente em salas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza. Ambientado em 1984, quando o país foi às ruas pedindo eleições diretas para presidência da República (Diretas Já), o longa-metragem traz Caio (Pedro Maia), um adolescente de espírito libertário que vive seu despertar político e amoroso no momento em que a população brasileira experimenta a euforia do término da ditadura e a esperança de assumir as rédeas do país.
Totalmente produzido em Salvador, "Depois da Chuva" já foi exibido em doze países, sendo que a estreia internacional foi no 43º Rotterdam Film Festival (Holanda). Premiado no 46º Festival de Brasília em três categorias (roteiro, ator e trilha sonora) e escolhido o melhor filme estrangeiro do Harlem International Film Festival (Nova Iorque - EUA), o longa começou sua trajetória nos festivais de Cannes e de Cinema Independente de Buenos Aires (Bafici), onde foi exibido como "work in progress".
A trama procura trazer a atmosfera dos anos 80, marcados pelo começo da epidemia da Aids, pela força do punk-rock e pela ameaça de uma guerra nuclear. Junto à tensão política, esses elementos compõem o pano de fundo dessa narrativa, que apresenta experiências atemporais da juventude, sendo capaz de dialogar com os mais variados públicos.
"Havia uma rara sensação de liberdade naquele momento. Eu e todos que estavam à minha volta nos sentíamos vivenciando um momento único da história do país", conta Marques, roteirista e um dos diretores da produção. O filme mostra a transição do clima de confiança que dominava o país durante as Diretas Já para a frustração diante dos resultados: as eleições diretas não aconteceram, os conchavos políticos ganharam espaço, Tancredo Neves morreu e José Sarney, antigo aliado da ditadura, tornou-se presidente. "Todo este processo nos levou a uma sensação de impotência muito grande", recorda.
Mesmo com uma ambientação histórica, "Depois da Chuva" não fala de situações datadas. "O que estamos vendo hoje é o resultado de um processo mal feito de formação da nossa democracia. A Nova República nasceu com a mesma cara do regime militar", conclui Marília.
A trilha sonora do filme aposta no lado hardcore dos anos 80 soteropolitanos, tendo as bandas Crac! e Dever de Classe como expoentes. Em uma das suas cenas mais vibrantes, "Depois da Chuva" reúne os integrantes dessas bandas para uma performance em uma fábrica abandonada no subúrbio ferroviário.
Desde sua primeira exibição, em setembro de 2013, "Depois da Chuva" foi apresentado ainda na Alemanha, Uruguai, Suécia, Finlândia, Kosovo, México, Turquia e Chile.
Elenco em destaque
Em sua estreia no cinema, Pedro Maia (Caio) tornou-se o mais jovem vencedor do Festival de Brasília na categoria ator principal. Selecionado em um grupo de teatro escolar, o adolescente, na época com 16 anos, se tornou o mais jovem a ganhar o prêmio de melhor ator em toda a história do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. "Temos um protagonista e o perseguimos durante 90 minutos de história. Sabíamos que caso errássemos nessa escolha, 'Depois da Chuva' não iria funcionar", revela Cláudio Marques, que fez a preparação do elenco, juntamente com Marília.
Marques ressalta que a força do elenco foi um dos pontos destacados nas exibições que acompanhou no Brasil e no exterior. Além de Pedro Maia, o filme conta com a jovem Sophia Corral e nomes conhecidos do teatro baiano que fizeram um mergulho na atuação cinematográfica, como Aícha Marques e Talis Castro. Outro destaque é a fotografia de Ivo Lopes Araújo, em um cada vez mais raro formato 16mm.
Primeiro longa
"Depois da Chuva" é o primeiro longa de Cláudio Marques e Marília Hughes, diretores de seis curtas-metragens que acumulam 56 premiações e mais de 150 participações em mostras e festivais. "A Mensageira" projeto mais recente da dupla foi o grande vencedor do 5º Brasil CineMundi - International Coproduction Meeting, recebendo R$ 100 mil em serviços e garantindo a participação no Torino FilmLab (Itália) e no Cinélatino (França), eventos nos quais o roteiro será apresentado a produtores de diversas partes do mundo.
A ideia de realizar "Depois da Chuva" nasceu em 2008, quando os cineastas decidiram que filmariam uma ficção inspirada nas lembranças de Cláudio desse período de mobilização em prol da democracia.
As filmagens aconteceram durante cinco semanas entre junho e julho de 2012, mas antes disso os cineastas realizaram um extenso trabalho de seleção até encontrar o estreante Pedro Maia.
O filme é uma realização da produtora Coisa de Cinema, viabilizada pelo edital de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura e do governo do Estado da Bahia (verba de suplementação). O longa tem distribuição da Espaço Filmes, de Adhemar Oliveira, e deve chegar às capitais da região Sul em fevereiro.