O corpo do artista plástico chileno Jorge Selarón, que se suicidou no último dia 10, foi enterrado na tarde desta quarta-feira(16), no cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul da cidade. A Prefeitura do Rio custeou todos os custos do enterro e do velório.
Mais do que dar o seu último adeus ao artista, o pedido dos amigos e pessoas próximas a Selarón era muito claro, expresso nas palavras de César Augustín Gomez, secretário pessoal do artista nos últimos seis anos:
"Disse ao Washington Fajardo(Presidente da Rio Patrimônio, antiga subsecretaria de Patrimônio Cultural) que espero que isso não seja só politicagem. Queremos a preservação da vida e da obra de Jorge Selarón", pediu Cesar, muito emocionado. Ele participou da terceira restauração da escadaria, e agradeceu à prefeitura do Rio pelo custeio do enterro. "Foi muito importante".
Dandara Alves, que trabalhava como secretária no Ateliê do artista há dois anos, disse que os passos vão ser dados um de cada vez. "Primeiro vamos enterrá-lo, depois vamos esperar a poeira baixar. Precisamos de alguém para nos ajudar a não deixar a obra dele parar. A escada não pode ser abandonada.
Gemerson Dias, que já havia mostrado à imprensa as cartas de Selarón contando sobre as ameaças que recebia de Paulo Sérgio Rabello, ex-colaborador do ateliê, segurava o certificado de óbito do artista. Na parte da causa da morte, lia-se: queimaduras de 4º grau. "Ninguém resiste a uma queimadura dessas. Ainda mais na cabeça", desabafou o ex-policial civil aposentado, que vinha atuando como uma espécie de fotógrafo oficial da escadaria. "Está tudo muito recente. É muito triste".
Após uma oração budista, comandada por dois amigos do artista, o caixão de Selarón foi levado até o local onde teria seu destino final. Uma carta da família do artista, Morález Perez, foi entregue para ser lida no enterro, e conta um pouco da tristeza da família por ter perdido um ente querido. A última frase é o resumo dos pedidos com relação ao artista:"Que não esqueçamos o legado e a força de Jorge Selarón e sua obra".
Briga
Logo após o sepultamento do corpo, o cônsul chileno no Rio de Janeiro, Samuel Ossa, se dirigiu a Cesar Gomez, secretário de Selarón, para trocar ideias.
Rapidamente, porém, a conversa foi interrompida pela irritação do argentino, que gritava para o Cônsul:
"Você não me ajudou, Samuel Ossa. Você não me ajudou!", repetia, indignado.
Nesta segunda-feira (14), os amigos de Selarón se reuniram com o cônsul chileno para que o consulado pagasse os R$ 3.500 da cremação do corpo do artista, como era o desejo de Selarón. O corpo, no entanto acabou sendo enterrado, porque a quantia não foi paga.
Ao ser perguntado se haveria algum outro motivo para a discussão, Gomez irritou-se: "Não importa, não importa". Ossa foi embora sem falar com a imprensa.