Ao ganhar no Festival de Sundance/09 os prêmios do Júri e da Audiência com Preciosa, o diretor Lee Daniels declarou na ocasião que o mais importante para ele é que havia conseguido passar uma mensagem defendendo as minorias.
O filme denunciava o drama de uma adolescente obesa negligenciada e abusada por seus próprios pais e, assim como este The Paperboy, seu novo trabalho, faz também um libelo contra o preconceito e o racismo.
Vindo de Cannes – onde teve apoios da ala GLS e de grupos negros – The Paperboy é um dos destaques das sessões de imprensa do Festival de Nova York, que está celebrando sua 50ª edição.
Paralelamente à exibição, Nicole Kidman, que estrela o filme, está recebendo uma homenagem especial no festival.
O filme é um thriller ambientado em 1969 nos Everglades, região pantanosa da Flórida. Narrado em flashback, mostra a enquete em torno de um livro que, anos antes, virou um clássico do chamado novo jornalismo, investigando as circunstâncias de um crime.
Baseado no livro de Peter Dexter, a trama segue Charlotte Bess (Kidman), que tenta resolver seus problemas de carência se correspondendo com presidiários. Ao se apaixonar por um racista psicopata condenado à morte, apela a dois jornalistas para que provem sua inocência.
Lee Daniels colocou ótimos atores em papéis antes impensáveis: a cantora Macy Gray vive uma empregada numa cidade racista da Flórida e Nicole Kidman surpreende em fortes cenas de sexo. O elenco de peso conta ainda com Matthew McConaughey e John Cusack entre outros.
Daniels diz que “conhece” pessoalmente os estranhos personagens retratados no livro de Dexter e mantidos fielmente no filme.
“Minha irmã se correspondia com detentos, muitas mulheres fazem isso; meu irmão esteve na prisão por homicídio e eu nem consigo contar o número de homens brancos que não podiam aparecer comigo em público”, detalha, acrescentando que há muito tempo desejava fazer o filme.
“A obra de Dexter era meu livro de cabeceira, volta e meia eu o relia e decidi que meu próximo trabalho após Push (Preciosa), seria baseado nele”, diz enfatizando o resultado que espera com o filme.
“O mais importante é fazer filmes que quebrem os tabus e as barreiras do preconceito, que sejam reais, honestos e expressem a voz das minorias. Ficarei muito satisfeito se isso acontecer com The Paperboy”, declara, antecipando que seu próximo trabalho deverá ter por tema o mundo das drogas.
Sobre quais influências de outros diretores e/ou filmes o levam para temas tão sombrios, Daniels afirma que são muitos, mas destaca dois.
“Pick up on South Street, de Samuel Fuller, um filme anos à frente do seu tempo, embora tenha sido realizado em 53 e Bonnie & Clyde (Bonnie e Clyde: uma rajada de balas), de Arthur Penn. São filmes que todo diretor deveria assistir”, aconselha.