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Crítica: 'Anderson Silva - Como água'

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Uma produção americana, com diretor estrangeiro (Pablo Croce), sobre Anderson Silva, considerado por muitos o maior lutador de MMA do mundo. Poderíamos esperar um roteiro óbvio em que veríamos a vida de nosso herói contada de forma linear, desde sua infância pobre até se tornar campeão mundial invicto no UFC. 

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Mas Anderson Silva – Como Água é um documentário que encontrou uma maneira diferente de contar essa história, fugindo dos lugares-comuns em que caem normalmente filmes desse tipo. No lugar da exaltação superficial de um ídolo, o que vemos é a preparação de uma luta histórica, por diversos ângulos e pontos de vista. Através dessa preparação é possível acompanhar muito das atitudes e da personalidade de Anderson. Dessa maneira, no final da sessão, ao invés da imagem mítica e imponente de um herói, saímos com a sensação de ter acompanhado um trecho da trajetória de um ser humano como nós, que erra e acerta e que precisa lidar com os holofotes de uma mídia que pode o derrubar mais rápido do que seus oponentes.

Quem assistir ao filme irá logo identificá-lo com um outro grande documentário sobre luta, Quando Éramos Reis, de 1996. O filme falava sobre o mítico duelo entre Muhammad Ali e George Foreman, em 1974. Assim como a luta vencida por Ali, o duelo entre Anderson Silva e Chael Sonnen, principal mote de Como Água, foi muito alem das grades do octógono.  Foi uma luta travada na mídia, através dos discursos ácidos de Chael Sonnen, das atitudes polêmicas de Anderson Silva e de toda a aura criada por quem sabe que, como o próprio presidente do UFC Dana White diz, a luta é apenas um detalhe. O show precisa continuar e ser vendido. E ao se recusar a transformar em show o seu “ganha-pão”, como diz o próprio Anderson, a polêmica se criou. A verdade é que tanto Sonnen quanto Anderson são figuras altamente midiáticas, provocadoras, e que adoram ter todos os holofotes sobre si, mesmo que tenham diversas atitudes diferentes. Essa vocação para o “estrelato” de ambos, assim como com Ali e Foreman, transformou o evento em muito mais do que uma luta.

A escolha do filme é em cobrir a preparação para essa luta em um modelo quase ficcional, em que observamos uma história sendo contada com o suspense construído na preparação e na expectativa da luta por acontecer. E isso funciona perfeitamente. Mesclada com a descoberta do UFC como um grande show, a linguagem se encaixa perfeitamente. Estamos o tempo todo a nos perguntar se as opiniões e atitudes são verdadeiras ou simplesmente comerciais, expostas para “vender” a luta.

Com o eminente crescimento do MMA no Brasil e a adesão gigantesca de fãs no país, é de se esperar que mais produções tratem do assunto, como o documentário Lutando Para Vencer, em fase de produção, que tem como personagens o treinador Dedé Pederneiras (considerado o melhor do mundo) e seus atletas, como o campeão José Aldo. Anderson Silva – Como Água é um ótimo filme, e esperemos que surjam novos filmes sobre o assunto. E que sejam, dessa vez, produções nacionais.

Cotação: *** (Ótimo)