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Veterana atriz Adriana Asti interpreta Winnie em peça de Bob Wilson

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Daniel Schenker, Jornal do Brasil

BELO HORIZONTE - Bob Wilson é um diretor conhecido pela fabricação de imagens poderosas. Para o ator, o risco parece ser o de desaparecer no meio delas. Mas não foi o que aconteceu com Isabelle Huppert, na encenação de Quartett, de Heiner Muller. E também não deverá ocorrer com Adriana Asti, que apresenta Dias felizes, de Samuel Beckett, sábado e domingo, naquela que é a atração mais aguardada do 10º Festival Internacional de Teatro, Palco & Rua, de Belo Horizonte.

O ator deve entrar no mundo mágico, inventado, fantasioso-científico de Wilson afirma Asti, sobre o encenador que realizou uma série de colaborações marcantes com Philip Glass (Einstein on the beach), Lou Reed (Timerocker), e William Burroughs e Tom Waits (The black rider).

Depois das sessões em Belo Horizonte, a montagem, que começou a ser mostrada em 2008, poderá ser vista pelo público brasileiro na próxima edição do Festival Porto Alegre em Cena, em setembro. No Brasil, Adriana Asti fala o texto de Beckett em francês (haverá legenda). Por isto, fez questão de chegar alguns dias antes à capital mineira.

Uma das principais peças de Beckett, Dias felizes foi interpretada duas vezes por Fernanda Montenegro, a primeira, nos anos 70, com o título de Oh! Que belos dias, ao lado de Sadi Cabral, e a segunda, na década de 90, com a atriz dividindo a cena com o marido, Fernando Torres. A peça é centrada na figura de Winnie, cujo corpo vai sendo cada vez mais soterrado diante do espectador, até que só sua cabeça permaneça de fora. Entretanto, o otimismo da personagem, que monologa diante do marido (interpretado, na montagem de Wilson, por Giovanni Battista Sorti), permanece inabalável.

Tendemos a ser otimistas durante a vida, até que ela termine observa a italiana Adriana Asti, do alto de seus 77 anos, em sua primeira visita ao Brasil. Winnie fica cada vez mais limitada, mas permanece viva. Beckett traz à tona a situação de todas as pessoas, à medida que envelhecem.

Ao longo de sua rica carreira, Asti trabalhou com outro diretor renomado Giorgio Strehler, no Picolo Teatro de Milão. Mas ventuais pontos de identificação entre este último e Bob Wilson estão fora de cogitação.

Strehler é um poeta realista, ao passo que Wilson investe na abstração sem enveredar pela interioridade ou pela psicologia da personagem - diferencia Adriana Asti, que conheceu Gianni Ratto (diretor integrou companhias importantes no Brasil, como o Teatro Popular de Arte, o Teatro Brasileiro de Comédia e o Teatro dos Sete) na época em que assinava cenografias de montagens do Picolo.

De Pasolini a Techiné

Além do teatro, a atriz se sobressaiu no cinema. Atuou sob a orientação de diretores emblemáticos, como Luchino Visconti (em Rocco e seus irmãos, de 1960, e Ludwig, de 1972), Pier Paolo Pasolini (Accattone! , de 1961), Luís Buñuel (O fantasma da liberdade, de 1974) , Bernardo Bertolucci (Antes da revolução, de 1964). Acaba de filmar Terminus des anges, de André Techiné.

Sua nova conquista é a literatura, terreno no qual se aventurou com A leitora dos destinos escondidos, história de amor protagonizada por uma leitora para cegos.

Demorei para começar a escrever porque só agora tive um pouco de tempo para me dedicar a essa atividade. E se eu não escrevesse, quem faria por mim? questiona.

O repórter viajou a convite da organização do festival