Alessandra de Paula, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Para fazer teatro é preciso querer muito, é preciso estar forte , sentencia o ator Elias Andreato. E 34 anos depois de pisar no palco pela primeira vez ele ainda quer muito. Andreato passa a limpo este longo percurso no espetáculo Doido, que estreia no Galpão das Artes Espaço Tom Jobim nesta quinta-feira, para uma curta estadia de apenas duas semanas. O espetáculo chega ao Rio depois de uma bem-sucedida temporada em São Paulo, em que Andreato ganhou no ano passado o prêmio de Melhor Ator concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Além de atuar sozinho, ele assina o roteiro e direção só assim poderia ter plena liberdade para dar forma a um projeto tão autoral e íntimo.
Escolhi fazer teatro porque esta é a grande paixão da minha vida observa Andreato, durante ensaio no Espaço Tom Jobim, na semana passada. Muitas vezes a gente esquece o que nos motivou a fazer determinadas escolhas, fica mais duro e amargo com os anos. Então, eu faço Doido e outros projetos para não esquecer. Não escolhi atuar, fazer o roteiro e direção sozinho porque eu me basto, mas sim porque tinha uma necessidade de que fosse desta maneira.
No monólogo, Andreato vive uma espécie de alter ego na peça, um caixeiro viajante cuja mercadoria são as palavras de grandes autores como Shakespeare, Nietzsche, Tchecov, um conto do escritor mineiro Ivan ngelo e textos do próprio ator, tudo costurado de forma pouco ortodoxa. O cenário, simples e funcional, compõe-se de uma mesa trabalhada em marchetaria com as máscaras do teatro e de elementos que o ator tira de dentro de uma mala: um barco de papel, um molho de chaves, as engrenagens de uma caixa de música e uma boneca Barbie. O figurino, assinado pela sobrinha do ator, Laura Andreato, segue o mesmo conceito minimalista e pleno de significados:
Eu uso um terno desconstruído, com uma manga menor que a outra, um lado menor que o outro, e a camisa se transforma numa camisa de força no final detalha o ator. Não são mudanças gritantes, mas perceptíveis se olharmos de forma mais atenta. É o figurino de um homem que, aparentemente é normal, mas olhando de perto, tem algo de estranho. É assim que as pessoas veem quem trabalha com arte, né? Por isso batizei a peça de Doido.
O espetáculo estreou no Festival de Curitiba, ficou um ano em cartaz em São Paulo, e já circulou por cidades de Minas e Brasília, sempre com boa recepção do público.
Tenho apresentado a peça para estudantes, realizado debates... Falo da minha relação com o teatro, numa espécie de catarse, mas, apesar de ser muito pessoal, o texto é acessível para qualquer pessoa, ele se comunica muito bem com os espectadores.
Andreato conta com orgulho que vive de teatro, mas, para isso, como tantos outros profissionais, tem que fazer várias coisas ao mesmo tempo. Ele está dirigindo o espetáculo Gueto, em cartaz em São Paulo, uma peça sobre o levante do gueto de Varsóvia. Vai dirigir um show de música, também na capital paulista, chamado Florilégio, ainda sem data para acontecer; e fazer o roteiro e direção de mais dois espetáculos teatrais: Mirna, com crõnicas de Nelson Rodrigues; e Decifra-te ou me devora, uma reflexão sobre encontros amorosos ambos devem estrear ainda em 2010.
Mais do que talento, para fazer teatro é preciso vocação. Ir lá todo dia, de quarta a domingo, não é fácil. E fazendo monólogo também é complicado. Imagina ficar com você mesmo o tempo todo? diverte-se o ator.
>> Em cartaz
Doido
Espaço Tom Jobim, Rua Jardim Botânico, 1.008 (2274-7012). 5ª e 6ª, às 20h; sáb. e dom., às 19h. R$ 30. Até 1º de agosto