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'Guerra ao terror' e 'Entre irmãos': lado humano do militar

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Carlos Helí de Almeida, Jornal do Brasil

RIO - As nove indicações ao Oscar recebidas por Guerra ao terror, de Kathryn Bigelow, que chega sexta-feira aos cinemas brasileiros, indicam que os filmes que exploram conflitos bélicos do ponto de vista de seus agentes estão em alta. Pelo menos outros dois títulos recentes que fizeram a mesma opção pela humanização dos campos de batalha contemporâneos desembarcam nas próximas semanas no circuito nacional também com o aval da crítica e afagos das associações de classe americanas: O mensageiro, de Oren Moverman (19 de fevereiro), concorrerá ao Oscar de Ator Coadjuvante (Woody Harrelson) e Roteiro Original; Entre irmãos (5 de março), de Jim Sheridan, chegou a disputar os Globos de Ouro de Ator Dramático e Canção Original.

Os três longas-metragens foram lançados no momento em que o mercado registrava um visível desgaste dos filmes inspirados nos conflitos do Oriente Médio. Dirigido pelo premiado Paul Haggis e estrelado por Charlize Theron, No vale das sombras, por exemplo, arrecadou apenas US$ 6,8 milhões nos Estados Unidos. O mesmo caminho teve O suspeito, de Gavin Hood, com Reese Whiterspoon e Jake Gayllenhall, que encerrou carreira com meros US$ 10 milhões na conta. A diferença é que tanto Guerra ao terror que chegou a ser lançado diretamente em DVD no Brasil e, após as indicações para o Oscar, chega às salas de projeção quanto O mensageiro e Entre irmãos desviam o foco das grandes batalhas épicas e de seus supostos heróis para abordar o lado emocional das grandes guerras do momento, no Iraque ou no Afeganistão.

Câmera na mão

O filme de Kathryn Bigelow tenta oferecer uma nova faceta sobre a campanha americana no Oriente Médio. Protagonizado por atores pouco conhecidos do grande público, ancorados pelos hollywoodianos Guy Pearce e Ralph Fiennes, Guerra ao terror passou em brancas nuvens pelo Festival de Veneza de 2008. Na época, chamou mais atenção por suas ligações com o momento da política dos Estados Unidos do que propriamente por seus valores cinematográficos.

Tenho esperança de que as forças americanas no Iraque voltem em breve para casa. Há apenas um homem capaz de fazer com que isso aconteça e esse homem é Barack Obama confessou, em Veneza, a diretora, conhecida pela autoria de filmes viris, como Caçadores de emoção (1991) e K-19 The widowmaker (2002). Li um artigo no New York Times que se referia a soldados viciados em guerra e achei nele a perspectiva psicológica de que eu precisava para falar sobre o lado humano desses jovens.

Guerra ao terror acompanha uma temporada de um grupo de especialistas em desativação de bombas no Iraque. À frente deles está o sargento William James (Jeremy Renner, indicado para o Oscar de Melhor Ator), que lidera missões para desarmar explosivos caseiros e em homens-bomba, ao mesmo tempo que tenta proteger os civis pegos no meio do fogo cruzado. O roteiro é do jornalista Mark Boal, que acompanhou as atividades dos soldados americanos em Bagdá entre 2003 e 2004 e autor da história que deu origem a No vale das sombras, drama de mistério envolvendo a morte de um cadete em território americano, depois de voltar do Iraque.

Meu filme fala sobre soldados voluntários, que escolhem participar daquele conflito distinguiu Kathryn, ex-mulher do diretor James Cameron, seu principal concorrente no Oscar com o bilionário Avatar. Meu interesse era dar à Guerra do Iraque uma cara humana, permitir que o espectador experimente o que os soldados passam quando estão em campo. Realismo e verdade sublinham todas as imagens dele.

A trama de Guerra ao terror é narrada em estilo documental, com câmera na mão e imagem instável, embora o gênero não tenha sido concebido como um valor estético , como defende a diretora. A história articula-se em torno de momentos de tensão e rompantes de violência que às vezes não se realizam e, basicamente, desenha uma imagem favorável de homens que veem a guerra como um vício incorrigível, única maneira de se sentirem verdadeiramente vivos. Kathryn contou que, ao contrário do que aconteceu durante a Guerra do Vietnã, o acesso aos americanos a materiais sobre a Guerra do Iraque é extremamente limitado.

Temos pouco acesso a imagens e a qualquer tipo de material que nos dê uma vaga ideia do que está realmente acontecendo lá. É dessa escassez que nasceu a minha intenção de investigar mais a fundo esse lado oculto do conflito disse a diretora, usando uma justificativa semelhante à de Brian de Palma para fazer Redacted, outro fracasso comercial inspirado pela Guerra do Iraque. Não há registros sobre o que o exército americano está fazendo no Iraque. Vemos muito pouco sobre a guerra na televisão ou nos jornais. Mark Boal passou bastante tempo em Badgá acompanhando algumas dessas missões e então pudemos saber o que acontece com nossos soldados.

O mensageiro deixa claro que não é preciso ir muito longe para sentir os efeitos dos conflitos bélicos no Oriente Médio. O filme de Moverman, que ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim do ano passado, é coprotagonizado por Harrelson e Ben Foster. Eles interpretam dois oficiais do Exército que, de volta da campanha no Iraque, recebem a difícil tarefa de notificar as famílias dos soldados mortos em combate.

O mensageiro é um filme que lida com os aspectos da guerra a partir da perspectiva dos soldados observa Foster. Quais são os verdadeiros resultados da guerra? É uma questão que está aquém da política, é apenas sobre perdas humanas. Qualquer um pode se identificar com essa situação.

Bilheteria de US$ 28 milhões

Remake de um sucesso dinamarquês, Entre irmãos fala sobre um soldado americano (Tobey Maguire) que volta para casa depois de uma temporada em poder de rebeldes iraquianos e passa a desconfiar de que a mulher (Natalie Portman) teve um caso com seu irmão (Jake Gyllenhaal) durante sua ausência. Dos três, o filme dirigido pelo irlandês Jim Sheridan (Em nome do pai) é o mais bem-sucedido comercialmente: faturou até agora US$ 28 milhões nos cinemas americanos.

Talvez a onda dos filmes de guerra esteja voltando disse Sheridan à imprensa americana, tentando explicar o interesse do público pelo gênero, menos escapista e mais humano. Filmes como os nossos parecem que estão conquistando o público. Nossos filmes podem ser obscurantistas, mas não acabam em redenção, no sentido de que, se compartilharmos nossos sentimentos, um dia poderemos curar nossas feridas.