Luiz Felipe Reis, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - No balanço geral de atrações pop de 2009, pode-se dizer que o público carioca teve mais do que lamentar que celebrar. A cidade esteve ausente do roteiro de viagem de artistas cultuados como Sonic Youth, Iggy & The Stooges, Jane's Addiction, The Killers, Franz Ferdinand, Gutter Twins, Primal Scream, entre outros. No fim do túnel, mais precisamente entre este e o próximo fim de semana, um paliativo acende as esperanças do público alternativo. Nesta sexta, a Fundição Progresso recebe a segunda edição do Festival Indie Rock, que se apoia em atrações internacionais como Super Furry Animals (País de Gales), Gogol Bordello (ciganos radicados em Nova York) e El Mato a un Policia Motorizado (Argentina). Já o Festival Universitário MTV, realizado entre os dias 19 e 21, traz como carro-chefe os nova-iorquinos do The Walkmen, em meio a um turbilhão de artistas independentes.
A alta do dólar e a crise mundial impediu a realização do Indie Rock em 2008. Este ano, vários produtores reclamaram de falta de apoio. Mas o festival ganhou um patrocinador e, a partir do ano que vem, estaremos integrado ao calendário da prefeitura revela a organizadora Maria Jucá.
Destaque do primeiro evento, o Super Furry Animals aposta num rock psicodélico entremeado de intervenções eletrônicas. Desde que acenaram com Fuzzy logic (1996), os galeses de Cardiff, liderados pelo guitarrista e compositor Gruff Rhys, não se acomodaram. Lançados em frequência bienal, cada disco da banda caminha em sentido oposto ao anterior.
É sempre um desafio tentar não repetir o que já fizemos, se desvencilhar de velhas fórmulas. Nossos sentidos estão em constante mudança, então é natural que tentemos um caminho diferente e desconhecido. Mas apesar das mudanças, todos têm a nossa cara garante Rhys.
Afeitos a novidades, as alternâncias sonoras são acompanhadas por mudanças de locação geográfica para as sessões de gravação. Para Love kraft (2005) produzido por com produção de Mario Caldato Jr. (Beastie Boys, Jack Johnson e Marcelo D2) os músicos deixaram o estúdio-base no País de Gales e se instalaram em Figueres, na Espanha, com escala posterior no Rio, para a mixagem. Dois anos mais tarde a banda se instalou na França disposta a gravar um álbum simples, direto, com apenas 36 minutos, numa atmosfera mais turbulenta e de intenção oposta às canções mais lentas do anterior. Hey Venus! (2007) capta a intensidade de uma banda ao vivo, deixando de lado o uso de samplers. Já Dark days/Light years (2009) retoma o flerte com elementos sonoros extraídos do computador.
Cada novo trabalho é como se fosse uma reação contrária ao anterior. Hey Venus! é mais tradicional. Agora, conseguimos nos desenvolver ainda mais.
Citado pelo jornalão The Guardian como o melhor trabalho do grupo, Love kraft inaugurava um novo momento no processo criativo do SFA. Até então centradas nas mãos de Rhys, as composições do grupo passaram a ser concebidas em caráter colaborativo
Nos últimos anos, realmente estivemos compondo juntos, trocamos mais afinidades... Tocamos há tempos e nos tornamos cada vez mais confiantes uns nos outros. Ao longo dos anos, desenvolvemos uma química mais equilibrada. Somos influenciados por grandes bandas que trabalhavam dessa forma, como os Beach Boys.
A longevidade do grupo e a assiduidade de seus lançamentos também remetem a tal influência. Perto de lançar o 10º álbum de carreira, Rhys sabe que o SFA não conta com o orçamento disponibilizado para os álbuns de seus ídolos, mas aposta no bom relacionamento com os parceiros de banda para assegurar a qualidade.
Ainda nos divertimos tocando ao vivo e ainda não temos as canções prontas, mas com certeza iremos gravar o nosso 10º disco, o que é muito legal anima-se. Somos amigos desde antes de começarmos a banda. Esse relacionamento nos dá a chance de nos entendermos melhor. Até hoje somos muito próximos e isso é ótimo.
O grupo tocou no Brasil pela primeira vez em 2003, quando se apresentou no extinto Tim Festival, no mesmo dia de White Stripes e Rapture. Em 2007, Rhys retornou com uma série de shows solo e, no ano passado, subiu ao palco do mesmo evento, junto ao Gogol Bordello, para mostrar o trabalho do projeto paralelo Neon Neon.
Não sei se vou gravar um novo álbum com o Neon Neon. Pode até ser, mas estou curtindo essa turnê. Estivemos aí há muitos anos e quero mostrar as canções dos novos álbuns e lembrar antigos sucessos.