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Show de Roberto Carlos é prejudicado por áudio ruim

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Nelson Gobbi, Jornal do Brasil

RIO - Roberto Carlos adentra o palco em seu célebre calhambeque azul ao som de Como é grande o meu amor por você. Visivelmente tocado com o Maracanã lotado de admiradores para o show especial por seus 50 anos de carreira, pelas duas horas e meia seguintes o Rei declara repetidas vezes seu amor pelos fãs, brinca com o público, vai às lágrimas e canta 32 de seus maiores sucessos. Todavia, a maior parte das 68 mil pessoas presentes ao estádio não pôde compartilhar a festa com o maior ídolo da música brasileira, prejudicada por graves falhas no som e por uma inoportuna tempestade que quase põe a celebração a perder. Espetáculo mesmo só para os convidados da área vip, o público que pagou entre R$ 90 e R$ 180 pelas cadeiras do gramado e o espectadores que assistiram de casa, com delay de 30 minutos pela transmissão da Rede Globo. Aos demais, restou o esforço para ouvir as palavras do cantor e até mesmo sua voz em algumas canções, que chegava às arquibancadas e cadeiras num volume muito baixo, com os graves mesclados ao som da orquestra, também prejudicada pelo áudio mal equalizado. A iluminação, voltada diretamente para as arquibancadas, era incômoda e tirava o foco do show. Para quem não estava de cara para o palco, os telões também não ajudavam: apresentaram problemas constantes e, por vários momentos, pararam de mostrar as imagens do cantor e de seus músicos. Quando estes funcionavam bem, a direção do espetáculo, assinada por Roberto Talma, não privilegiava o público presente: na apresentação do maestro Eduardo Lages e de sua orquestra a câmera permaneceu fixa em Roberto, enquanto este apontava seus músicos no palco.

Clima de especial de TV

Desde antes de a apresentação começar, o clima de especial de TV fora de época já dava o tom da noite. Por volta de 21h, o ator Eri Johnson sobe ao palco e puxa Como é grande o meu amor por você, cantada em coro pelos milhares de pessoas que já lotavam o estádio. Momentos depois, um novo pedido para repetir a canção, prontamente atendido pelo público. Mal os últimos versos acabam de ecoar pelo Maracanã, Johnson insiste em mais uma versão do tema à capela, desta vez atendida com menos entusiasmo. Quando Patrícia Poeta surge para chamar o convidado de honra da noite, já se delineava o pior: poucas palavras ditas pela apresentadora eram ouvidas além do gramado. Quando Roberto Carlos assumiu o microfone e falou ao público, sua voz grave se tornou completamente inaudível. Emoções, a primeira música por ele, foi sustentada pelas milhares de vozes que o seguiam, enquanto o Rei aparentava digladiar com problemas no retorno.

Na 14ª música, Caminhoneiro, a chuva que caía desde o início da apresentação se transforma numa tempestade, fazendo com que a maior parcela do público do gramado e das cadeiras se deslocasse para as áreas cobertas. Pelos 10 minutos seguintes, o show permanece em suspenso, enquanto a técnica e a direção decidem se há possibilidade de lavá-lo até o fim, valendo até uma consulta de Eduardo Lages ao público para saber se seria possível dar sequência ao repertório. Com uma grande área do campo vazia, Roberto reassume o microfone e enfrenta a tromba d'água que cai sobre os fãs.

Da arquibancada não se escutava nada. O som estava horrível. Não ouvia nada do que o Roberto falava protestava a dona de casa Rosa da Silva Antunes.

Quem decidiu encarar a chuva no gramado teve a chance desfrutar mais o show. O cineasta Aurélio Aragão, que ocupou, com a mulher, duas cadeiras de R$ 90 nas últimas fileiras do gramado, aproveitou a debandada do público das filas à frente para ouvir melhor.

O som variava muito. Lá de trás deixávamos de ouvir muito do que ele dizia. Para um cantor que tradicionalmente projeta pouco a voz como o Roberto, a equalização parecia toda errada comenta Aragão. Preferimos ficar encharcados e ir mais à frente para ouvirmos com clareza. Amigos que assistiam de casa me ligavam dizendo que tudo estava maravilhoso. Pareciam dois shows diferentes.

Repertório dividido por fases

Todas as falhas técnicas e imprevistos, todavia, não tiraram a emoção do público ao ouvir temas que marcaram os 50 anos de trajetória de Roberto Carlos e, por conseguinte, da própria música brasileira. Dividido em partes temáticas, o repertório passou pela família e a juventude em Cachoeiro do Itapemirim (Aquela casa simples, Meu querido, meu velho, meu amigo, Lady Laura), pelos sucessos românticos (Eu te proponho, Os seus botões, Café da manhã, Cavalgada) e sucessos da Jovem Guarda (Eu sou terrível, É proibido fumar A namoradinha de um amigo meu, Quando), cantados junto aos velhos amigos Erasmo Carlos e Wanderléa. O encerramento, com Jesus Cristo cantada pelo Maracanã, era a expressão da popularidade alcançada pelo Rei, que, enfim, realizava um antigo desejo:

Desde que morava em Cachoeiro sonhava em fazer uma apresentação no Maracanã. Se isso for um sonho, por favor, não me acordem até o fim do show disse o cantor, aplaudido pelos 68 mil que reverenciaram sua obra no estádio.

(Colaborou Ricardo Schott)