Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil
RIO - Ela acaba de entrar para um seleto time de realizadores da animação. O pioneirismo da paulistana Mariana Caltabiano, 36 anos, já é celebrado na 17ª edição do Anima Mundi o festival que começou ontem em diversas salas de exibição no Rio e garante lugar na história do gênero. Seu As aventuras de Gui e Estopa, com exibição programada para hoje, às 12h30, no Centro Cultural Banco do Brasil, é o primeiro longa de animação brasileiro produzido por uma mulher e também o primeiro filme nacional comprado pelo canal a cabo Cartoon Network.
Fazer um longa de animação no Brasil, independente de ser homem ou mulher, já é uma grande conquista, porque é um trabalho bastante complicado celebra a diretora. O Cartoon comprou uma série de curtas do Gui e Estopa, que estreia em 2 de agosto e passa durante todo mês até o dia 30, quando será exibido o longa. O canal adquiriu ainda outras duas séries minhas, também com os mesmos personagens, onde misturo imagens reais e animação. Estas estreiam em 4 de outubro.
Para além da TV, Mariana se aventura em outras modalidades de animação.
Acabo de fechar um contrato para produzir o primeiro longa brasileiro em 3D adianta. Vai se chamar Brasil animado e será estrelado pelos personagens Stress e Reléx, que são dois produtores de animação. O Stress é estressado, investidor, é o cara da grana, e o Reléx é o cara das ideias. Nesse primeiro filme, eles mostram como é a aventura de se fazer um longa de animação, do design dos personagens ao lançamento nas salas de cinema. Fica pronto no ano que vem.
A animadora vibra com as novas possibilidades em três dimensões.
É completamente diferente.
A sensação é de se estar dentro do filme. A criança tenta tocar nos personagens, e até mesmo adultos têm esse impulso. Lembro do primeiro filme em 3D que assisti, do Pato Donald. Tinha uma cena em que uma torta era jogada na plateia e parecia que vinha na sua cara recorda a cineasta. Desde então fiquei fascinada. Era um sonho, mas hoje já é viável trabalhar com esse tipo de tecnologia. Além disso, não é possível reproduzir os efeitos em casa, num DVD, o que acaba evitando a pirataria.
Antes de ingressar na animação, Mariana era publicitária, mas já sonhava com o mundo dos desenhos. Começou se arriscando num livro infantil, Jujubalândia, que, na maior cara de pau, enviou para a Xuxa. Três dias depois foi chamada pela produção para ir ao programa da apresentadora na TV.
Eu não tinha noção de nada confessa. Contratei uns atores para encenar o livro comigo, cantei uma música que eu mesma fiz sobre os personagens e acho que a Xuxa achou que aquilo era um show. Pediu número de contato no ar e eu nem tinha. Dei o primeiro que veio na cabeça, do escritório do meu pai. No mesmo dia as pessoas não paravam de ligar. Pensei, isso tem um potencial .
A partir daí, Mariana produziu o piloto de uma série, que vendeu para o SBT. Acabou chamada pela Globo, onde criou a Turma da Garrafinha, em 1998, que ficou três anos no ar. Dois anos depois, fez Flora encantada, novelinha ecológica do programa da Angélica.
Com as portas começando a se abrir, consegui o sonhado patrocínio para produzir o longa As aventuras de Gui e Estopa, que começou a ser preparado em 2006 e foi lançado no ano passado.
Entre um novo bonequinho simpático e um personagem fofo, Mariana se embrenhou no universo adulto e lançou, em 2005, o livro Vips: Historias reais de um mentiroso. A publicação detalha as artimanhas de Marcelo Nascimento da Rocha, o célebre golpista que, entre outros feitos, fingiu ser dono da Gol, chefe do PCC e namorou diversas atrizes.
A O2, produtora do Fernando Meirelles, comprou os direitos e a história vai virar filme, com o Wagner Moura no papel principal e distribuição mundial da Universal Pictures comemora. Vai ser uma ficção em cima da realidade e paralelamente estou produzindo o documentário da história real, tudo para 2010.
A saga de Marcelo Nascimento remete ao personagem vivido por Leonardo DiCaprio em Prenda-me se for capaz, de Steven Spilberg, mas Mariana trata de ressaltar as diferenças.
O Marcelo foi piloto do narcotráfico, se fez passar por policial e até bandido prendeu, mas, ao contrário do ator americano, ele é muito feio. O DiCaprio usava a aparência para impressionar, principalmente as mulheres, o Marcelo fez tudo o que fez só na lábia ressalta Mariana. A gente tem contato direto. Ele estava preso no interior de São Paulo, onde chegou a escrever um livro de ficção que está para ser publicado, seguindo minhas orientações. Mas, para minha decepção, ele fugiu há duas semanas e acabou preso novamente, em Rondônia, dando um golpezinho besta. Ele não tem jeito. Acho que fui a última a acreditar que ele tomaria um rumo.