Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil
RIO - Aqui no Rio tem um cara impossível de ser encontrado. Ele não habita só a capital carioca. Está em todo lugar. É conhecido no país inteiro. Todos cantam juntos cada refrão, vibram com ele, e sábado um Maracanã lotado e todo o resto do país vai repetir seu nome: Roberto Carlos. Num palco de 500 metros quadrados montado bem em cima do gol, o mítico estádio vai receber uma apresentação do artilheiro de sucessos pela primeira vez, ocasião que, dizem, nunca se esquece. Mesmo para um Rei que acumula 50 anos de carreira, com passagens por alguns dos principais palcos do Brasil e do mundo, que lançou tendências e revolucionou a história da música, a vida ainda reserva surpresas capazes de tirar o fôlego.
Ele está com uma grande expectativa por esta apresentação, muito preocupado mesmo revela o maestro Eduardo Lages, fiel escudeiro e responsável pelos arranjos e orquestrações do cantor e compositor. Será o ápice das comemorações, apesar de um ano inteiro de shows e celebrações, o ponto mais marcante será este show, pelo volume de pessoas que se espera, Por tudo isso, tenho sentido o Roberto muito nervoso e ansioso.
Os 60 mil ingressos colocados à venda esgotaram-se rapidamente. Pela televisão, na transmissão ao vivo pela Globo, a expectativa é de que 50 milhões de gargantas estejam cantando simultaneamente as letras conhecidas de trás para a frente de É preciso saber viver, Como é grande o meu amor por você ou Detalhes.
No palco, 40 músicos. Além de sua banda acrescida de 23 integrantes para a ocasião, em relação aos shows que vem fazendo nesta turnê apenas os outros antigos reis do iê-iê-iê Wanderléa e Erasmo Carlos, em participações.
Tive que aplicar várias adaptações do que vínhamos fazendo, porque esse show é um programa que vai ser televisionado, uma produção bem maior, num lugar enorme conta o maestro. Me deu um trabalhão aumentar todos os arranjos e adaptá-los para a nova formação da banda. Muita gente vai ver pela primeira vez canções que ele não faz ao vivo há muito tempo, como Quando e Do fundo do meu coração.
Para Eduardo Lages, tudo bem. Há 31 anos no comando da parede sonora que envolve o repertório do Rei, a empreitada não foi nada que não tirasse de letra.
Ele geralmente concorda com tudo o que defino na parte instrumental. São muitos anos de convivência e uma cumplicidade enorme. Já sei bem o que ele gosta garante. Claro que, às vezes, pede para alterar um detalhe ou outro. É normal. Colocar os arranjos no papel é uma coisa. Quando ele vai cantar em cima é outra. Mas hoje não tenho mais esse tipo de problema, coisa que só acontecia mesmo no início da nossa relação.
Eduardo Lages afirma que suas orquestrações não passam batidas nem às fãs que se descabelam com qualquer suspiro do Rei no palco.
Sempre gostei muito de orquestras, uma coisa que está acabando - lamenta. O Roberto sentiria muita falta daquela massa sonora atrás dele, salvo numa música ou outra, como Detalhes, que faz praticamente sozinho, no violão, com a gente incluindo apenas uma coisinha aqui ou ali. Esses arranjos têm sido um dos fatores que sustentam seu prestigio. Depois de 50 anos de carreira, considero que ele está no auge. E isso não é para qualquer artista.
A triunfal entrada em cena de Roberto Carlos será a bordo de um calhambeque. A equipe de cenografia vai utilizar 200 metros quadrados de telões em alta definição. No total, 9 mil profissionais estarão envolvidos no megaespetáculo. As enormes proporções são de disparar o coração de qualquer um. Parece que apenas um dos envolvidos ainda mantém-se relaxado. Estreia para Roberto Carlos, lugar comum para o maestro.
Já participei de muitas produções no Maracanã. Fiz duas vezes a chegada do Papa e em outras diversas estive na produção musical da chegada do Papai Noel conta, relaxado, como quem vai se apresentar num teatrinho para um punhado de pessoas. Além disso, tenho intimidade com o estádio. Sou um flamenguista frequentador assíduo daqueles corredores.