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A mãe de todas as crises

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Emir Sader *, Jornal do Brasil

RIO -

O pensador marxista húngaro István Meszáros começou a ser conhecido pela publicação do seu livro A teoria marxista da alienação em Marx, que recebeu o Prêmio Isaac Deutscher, da revista inglesa New Left Review, em 1970. Porém, ele já tinha tido uma trajetória importante no seu país natal, onde foi o discípulo dileto de Georg Lukács.

Mészáros trabalhou com Lukács durante sete anos, antes de deixar a Hungria como relata em uma entrevista incluída neste A crise estrutural do capital tornando-se estreitamente amigos até a morte de Lukács, em 1971. Foi com Para além do capital que se transformou num ícone da esquerda brasileira. Entre suas obras mais vendidas estão A educação para além do capital e Século 20: socialismo ou barbárie.

Em A crise estrutural do capital, coletânea de textos publicados ao longo das duas últimas décadas sobre a crise sistêmica do capital, se concentra em um tema privilegiado, fundamentado mais extensamente em Para além do capital, enunciado por ele muito antes da crise atual.

Mészáros a considera não apenas a maior crise da história humana, mas a maior crise em todos os sentidos , fazendo de que se trate agora não apenas de vender um bando de capitalistas , mas de encontrar a reprodução social com base no controle dos produtores , que foi sempre a ideia central do socialismo. Teríamos chegado, segundo ele, aos limites históricos de o capital controlar a sociedade.

O novo estágio histórico do capitalismo se caracterizaria por que já não seria mais possível evitar o enfrentamento da contradição fundamental, isto é, o fracasso em constituir o Estado do sistema do capital, de forma a superar os antagonismos explosivos entre Estados nacionais. O que Meszáros chama de crise estrutural do capitalismo se iniciou na década de 70, provocando importantes mudanças na postura do imperialismo. Seria a terceira fase da história do imperialismo: a primeira foi a de construção dos impérios, pela expansão das potências europeias. A segunda, a do imperialismo redistributivista , a fase que Lenin chamou de sua fase superior. A terceira é aquela do imperialismo global hegemônico, em que os Estados Unidos se tornaram a força dominante.

Porém a confirmação de suas previsões não faz com que Mészáros se some à lista dos que consideram que a crise atual levará ao fim da hegemonia dos EUA. Discordando diretamente de autores como Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi, Andre Gunder Frank e Samir Amin, entre outros, Mészáros se soma a visões como a de Paul Baran, afirmando que não há como antes nenhum indício sério do ansiosamente antecipado declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica, apesar do aparecimento de numerosos sintomas de crise no sistema global .

Em entrevista recente à Socialist Review, incluída no final do livro, ele responde negativamente à possibilidade de um descolamento da situação econômica de crise: A globalização é uma condição necessária do desenvolvimento humano . Porém, a forma pela qual ela pode ser viável e sustentável é a de uma globalização socialista.

* Sociólogo