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Problemas pessoais ajudaram Selton Mello a atuar em "Jean Charles"

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Portal Terra

SÃO PAULO - Selton Mello passou pelo momento mais conturbado de sua vida enquanto filmava Jean Charles, no ano passado, e isso fica claro nas telas. O próprio ator reconhece que está diferente neste longe.

- Quando eu assisti ao filme foi como ver outra pessoa atuando - contou. - Eu estava vulnerável.

De acordo com o ator, parte dessa vulnerabilidade se deve ao fato de, na época das gravações, ter cortado os remédios para emagrecer, que tomava há dez anos.

- Foi um negócio bem avassalador para a cabeça. Cortei os remédios quando consegui enxergar que estavam me fazendo muito mal - explicou. - Isso se juntou ao sentimento de inadequação. Eu estava confuso, em crise com a profissão, me sentindo mau ator, feio e triste.

A análise o ajudou a se encontrar novamente.

- Já recuperei esse desejo de atuar. Sempre fui um workaholic, mas agora quero desacelerar. Quero ter tempo para viver, andar de bicicleta, ler e me conhecer melhor.

O problema pessoal de Selton Mello emprestou ao filme Jean Charles algo especial, afinal, o rapaz morto na estação Stockwell, em Londres, após ser confundido com terroristas, também estava vulnerável, longe de sua família, em um país desconhecido.

Confira a entrevista com Selton Mello:

Você passou por um período de depressão. Isso atrapalhou as filmagens de "Jean Charles"?

- No ano passado eu estava confuso e em crise com a profissão. Tomei remédios para emagrecer durante dez anos por causa do trabalho e isso foi um negócio bem avassalador para a minha cabeça. Em 2008, cortei esses remédios, finalmente tinha conseguido enxergar que estavam me fazendo muito mal. Jean Charles foi o auge disso. Eu já era esse cara que tinha parado de tomar os remédios, que estava confuso, me sentindo mal ator, feio, triste, em um país que não era o meu. E esse sentimento emprestou algo ao personagem que fugia ao meu controle. Quando assisti ao filme foi como assistir a outra pessoa atuando.

Por que você decidiu falar da depressão agora?

- Eu poderia estar mentindo aqui, falar que eu engordei 20 quilos para o papel, mas não, eu tava ruim da cabeça, estava vulnerável. É libertador poder falar sobre isso abertamente. Eu estou fazendo análise, coisa que eu nunca fiz na vida, e está sendo fabuloso.

Em que você pretende mudar?

- Sempre fui um workaholic e essa mudança não vai ser da noite para o dia. É louco estar dizendo que quero trabalhar menos com esse monte de filme estreando (Jean Charles, A erva do rato e A mulher invisível), mas na verdade esses são trabalhos que fiz no ano passado. Em 2009 eu só fiz uma participação na Espanha de quatro dias de filmagens e filmei com o Mauro Lima por 17 dias. Quero ter tempo para viver, andar de bicicleta, ler, me conhecer melhor. Meu ritmo de trabalho é muito frenético, até porque eu sou apaixonado pelo o que eu faço.

Mas você já conseguiu se encontrar?

- Já recuperei o desejo de atuar. Estou com vontade de dirigir, escrever. Estou com um projeto que escrevi para dirigir e atuar e agora não sei se vou adiante. A história é sobre um palhaço que está triste com a profissão. Ele faz as pessoas rirem, mas quem o faz rir? É tão pessoal que estou na dúvida se vou fazer.

Por que decidiu fazer "Jean Charles"?

- Conhecia o Jean Charles como todo mundo, só o lado da tragédia, e me interessei em contar a história de quem era esse cara, o que ele fazia.

Você teve acesso a algo pessoal de Jean Charles?

- Não. Só fotos e o que as pessoas me contavam. Tudo o que eu fiz faz parte de dados que eu tinha. Todo mundo dizia que ele era um cara para cima. Simples, mas ambicioso. O sonho dele era ser chefe, ter um Porsche. Os dados eram bons para eu brincar. O cara saiu de Gonzaga, que já é uma cidade pequena, e dentro dela tem um pequeno cafundó de onde ele era. O cara era da roça. Passou por São Paulo e ganhou um traquejo meio "mano". Por mais triste que ele tivesse, ele não demonstrada. Colocava todo mundo para cima.

Você já passou por alguma situação de desconforto fora do Brasil?

- Já. Há uma cena em que Jean Charles está em um orelhão e liga para mãe, depois chora de saudades. Eu já vivi muito isso.