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Arnaldo Baptista celebra lançamento de documentário sobre sua vida

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Ricardo Schott, Jornal do Brasil

RIO - Filmes musicais, é tradição, arrancam, ao fim, aplausos das pessoas que os assistem. Com Loki Arnaldo Baptista, primeira produção cinematográfica do Canal Brasil, dirigida por Paulo Henrique Fontenelle, aconteceu um pouco mais do que isso. A presença do próprio mutante na sala do cine Odeon Petrobras, onde foi exibido no Festival do Rio, em outubro de 2008 (terminando por ganhar o prêmio de melhor filme no voto popular), incentivou a plateia a aplaudir por mais de 20 minutos, aproveitando o ritmo de uma das canções do músico, Será que eu vou virar bolor?, tocada durante a exibição dos créditos finais. Uma cena que ficou na memória do diretor, e que lhe deu a certeza de que o filme, exibido no circuito nacional a partir do dia 19, poderia percorrer férteis caminhos nas salas de exibição.

Em todos os festivais nos quais Lóki foi exibido, a reação foi a mesma. Mas essa, por ser a primeira, foi para ficar na memória. conta Fontenelle. Na Mostra de Cinema de São Paulo, tiveram que fazer sessão extra porque as duas ficaram lotadas.

O documentarista observa que os fãs do ex-Mutante lotavam a caixa de e-mails do Canal Brasil pedindo pelo lançamento de Lóki.

Todos se emocionam muito com o filme, que conta duas histórias. A do artista que não estava tendo seu trabalho reconhecido. E a do homem que morreu e ressuscitou diz. Agora, quem quiser saber do Arnaldo daqui a 20 anos pode ver Lóki.

Produtor do Canal Brasil e do filme, André Saddy lembra da noite do Odeon como uma das maiores emoções de sua vida.

Nunca vi nada igual àquilo. Credito isso também à força do Arnaldo, à sua genialidade e à sua simplicidade, que cativam a todos conta Saddy, que, mesmo com a volta dos Mutantes com seu maior artífice, em 2006, ainda encontra gente que não sabe que Arnaldo está na ativa. Para você ter uma ideia, o guitarrista do Radiohead, Ed O'Brien, que é fã de Mutantes, não sabia que o Arnaldo estava vivo! Quando a banda esteve no Brasil, ele conversou com o cineasta Hector Babenco e ficou sabendo do filme por ele. Arnaldo mandou um CD autografado para ele e nós enviamos uma cópia do filme.

Até que se chegasse à parceria com o Unibanco Arteplex e ao lançamento de Lóki em 11 cidades Rio de Janeiro, São Paulo, Santos (SP), Tubarão (SC), Belo Horizonte (MG), Juiz de Fora (MG), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Recife (PE) houve dificuldades. Antes, os realizadores tinham os direitos para que o filme fosse lançado em televisão e num eventual DVD. Com a passagem para o cinema, algumas questões tiveram que ser revistas, como os direitos autorais. Usada para ilustrar a época dos festivais, berço dos Mutantes, a música Alegria, alegria, de Caetano Veloso, teve que ser retirada porque o uso dela custaria caro demais. Foi substituída por A banda, de Chico Buarque.

Não existe nenhum parâmetro para esse tipo de cobrança por parte das editoras lamenta Saddy. Uma coisa é um filme para 300, 400 salas, e outra é um que sairá em 20 lugares. A cobrança acaba sendo a mesma. Mas doeria mais se tivéssemos que cortar alguma música do Arnaldo por causa de editora.

O recente sucesso de Simonal Ninguém sabe o duro que dei, de Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, também anima o Canal Brasil a continuar investindo não apenas em Lóki, como em outros projetos de documentários que podem ou não virar filme. Um dos mais adiantados é Olho nu, sobre Ney Matogrosso, dirigido por Joel Pizzini. Paulo Mendonça, diretor do canal, aposta suas fichas também em outro projeto: Dzi Croquetes, sobre o grupo masculino de dança liderado por Lennie Dale nos anos 70, que está sendo dirigido por Tatiana Issa e Rafael Alves.

Estamos fechando um documentário sobre o Cauby com o Nelson Hoineff conta. Fizemos o documentário Memória cubana, da Alice Andrade e produzido em parceria com uma rede francesa. É sobre uma das primeiras agências de informação latino-americanas. Também pretendemos fazer algo sobre a gravadora Elenco. Tomamos gosto por isso.

O homenageado Arnaldo revela que já cultivou seu lado cineasta, nos anos 70.

Quando eu viajava de moto, fiz uma série de filmes em Super-8, que perdi diz Arnaldo, que, bem a seu estilo, só reclama de os cinemas que exibirão Lóki não terem amplificadores a válvula, sua grande paixão, para propagar o som do filme. O cara que é dono de cinema e não tem amplificação valvulada não é proprietário, é proto-otário. Daria mais profundidade ao som.