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Os múltiplos caminhos de Ana Maria Machado

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Carolina Leal, Jornal do Brasil

RIO - O exílio durante a ditadura interrompeu a carreira de professora de Ana Maria Machado, que passou pela conceituada Sorbonne, na França, e em Londres se tornou jornalista. De volta ao Brasil, a abertura de uma livraria infantil despertou o interesse pela literatura voltada às crianças. A escritora que ocupa a cadeira número 1 na Academia Brasileira de Letras revelou um pouco das histórias que marcaram sua trajetória de vida e o universo de sua obra, em mais uma edição do Depoimentos para posteridade, projeto realizado pelo Museu da Imagem e do Som (MIS). Ao longo de sua caminhada, já são 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países, entre títulos como Alice e Ulisses (seu primeiro livro adulto), Canteiros de Saturno e o infantil História meio ao contrário.

Nascida em Santa Teresa, no Rio, Ana Machado revelou que aos 4 anos já tinha história para contar: foi presa pela primeira vez com seu pai, um jornalista oposicionista ao governo Vargas. Da família, recorda da avó, que era analfabeta, mas lhe contava histórias e ensinava tradições da cultura popular; do avô, professor e que lhe ensinou gosto pela leitura; e das férias no Espírito Santo.

Família

Tenho até hoje uma casa em Manguinhos, que me traz a lembrança do mar, da infância e do contato com meus vários primos. Acredito que essas memórias, que misturam popular e erudito, tenham contribuído para minhas histórias infantis.

Ditadura militar

A ditadura foi algo que mexeu comigo. Fui presa, sim, mas por um sentimento de liberdade, por não conseguir ver injustiças calada, e não pela militância política, como muitos pensam. Não tenho o mínimo interesse por política. Todo partido tem pessoas de um lado e de outro. Nunca quis me envolver.

Formação

Me formei em Letras Neolatinas pela UFRJ, e segui na univesidade como professora acadêmica, carreira que abandonei no período da ditadura, quando fui em direção ao exílio na França e onde fiz doutorado na Sorbonne, sob orientação do importante crítico literário e filósofo Roland Barthes.

Jornalismo

Exilada na Europa, trabalhei na BBC de Londres, como jornalista. Ao voltar para o Brasil, em 1972, fui exonerada do serviço público na universidade, o que me fez seguir na área de jornalismo por oito anos, iniciando nas editorias de educação e cultura do Jornal do Brasil. Depois assumi a diretoria da rádio JB FM, que deixei para abrir a primeira livraria do país focada em livros infantis, a Malasartes.

Literatura infantil

Publiquei minha primeira história na revista Recreio. Eles queriam alguém que nunca tivesse escrito nada. Eu topei, e passaram a me chamar constantemente. Depois, eu entendi por que: a revista, que vendia 50 mil exemplares, pulava para cerca de 250 mil quando vinha com estórias minhas e de Ruth Rocha.

Doença

A questão de me dedicar apenas à literatura foi tomada após ter tido um câncer de mama, que me fez perceber que não tenho todo o tempo do mundo. Acho que fiquei mais seletiva.

Livro inédito

Hoje, tento me dedicar apenas à carreira de escritora, embora também contribua para a revista de educação voltada para professores do ensino fundamental Carta fundamental. Estou com um livro inédito, em fase de finalização. Costumo deixar cerca de três meses descansando para tornar a olhar antes de enviar à editora. É algo sobre fatos e versões, verdades e mentiras, mas é bem atual, vocês vão ver.