Orlando Margarido, Portal Terra
RECIFE - Os jogos de dois dos principais times de Pernambuco, Sport e Náutico, contribuíram para afastar a torcida da sessão da mostra competitiva no 13º Cine-PE Festival Audiovisual do Recife nesta quarta-feira. Menos da metade dos três mil lugares do Cine Teatro Guararapes foram ocupados para a exibição do documentário Um Homem de Moral, do paulista Ricardo Dias sobre o compositor Paulo Vanzolini.
Antes ainda havia um público maior para acompanhar os curtas-metragens, uma composição que vem se mostrando habitual nas noites do festival. Após os curtas, a platéia formada eminentemente por jovens deixou a sala, contrariando uma fama que o Cine-PE conquistou no decorrer de sua história.
Mas a parcela de espectadores, apesar de pequena, riu e aplaudiu em cena aberta o longa-metragem. Divertiu-se porque Vanzolini, além do talento de compor canções como Ronda e Volta por Cima, é uma figura e tanto, como bem mostra a fita. Ele conta as passagens principais de sua carreira de forma bem-humorada, ironiza a si mesmo e se expõe também como um prodígio de memória e irreverência aos 83 anos, completados no último dia 25.
Enquanto deixa Vanzolini falar à vontade, o diretor capta imagens da São Paulo atual em plena ebulição e em cenas poéticas, utiliza fotos antigas de Thomaz Farkas e entremeia tudo com depoimentos de músicos e apresentações desses sobre o repertório do compositor. Comparecem, entre outros, Chico Buarque, Paulinho da Violta, Elton de Medeiros e Inezita Barroso.
Um momento precioso é uma cena em que Adoniran Barbosa, amigo de Vanzolini, fala do colega de modo carinhoso, o que o outro logo retribui emocionado. Uma das qualidades da fita é deixar que intérpretes apresentem versões integrais das músicas do compositor. É um belo trabalho, ainda que a maior contribuição seja mesmo a presença inteligente e espontânea do mestre Vanzolini. O documentário acerta deixando que ele se mostre por inteiro, também como zoólogo, uma paixão que nem todos sabem que condiz com o compositor.
Curtas-metragens
Por ironia, um curta-metragem documental sobre futebol animou o início da segunda noite de competição do festival. Um Artilheiro no Meu Coração, produção pernambucana de um trio de jovens diretores, tenta recolocar no posto de grande e esquecido jogador o craque Ademir Marques de Menezes.
Sua glória nos anos 40 e 50, com a marca nunca ultrapassada de nove gols numa mesma copa (no caso, a de 1950), teria sido borrada com a perda do título na disputa mundial de 1958. A tese do filme ganha voz nos depoimentos de ex-jogadores, especialistas e jornalistas esportivos. Ao final da exibição, houve até um grito de guerra da platéia com o hino do Sport.
O restante da seleção manteve o bom nível do festival até agora, com a irreverência carioca de Quintas Invenções, e a força e delicadeza dos personagens femininos em A Mulher Biônica, representante do Ceará, e Tereza, ficção paulistana com Sabrina Greve. O documentário Cocais - A Cidade Reinventada, outro concorrente de São Paulo, é um filme de uma realidade dura sobre o cotidiano de doentes mentais numa pequena vila, levada com respeito e amor pelos retratados.