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A morte sem disfarce diante da plateia

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Macksen Luiz, JB Online

RIO - Depois de apresentações em Porto Alegre e Belo Horizonte e um pouco antes de estrear em São Paulo (não há previsão de temporada no Rio), Por um fio passa pelo Festival de Curitiba, encerrado ontem. Um dos quase 30 espetáculos da Mostra 2009, essa adaptação cênica do livro homônimo do médico Drauzio Varella pelo diretor Moacir Chaves transfere para o palco alguns dos relatos de pacientes que se confrontam com a possibilidade de morrer.

O médico é o condutor destes depoimentos, que emergem do consultório, das salas de operação e até de restaurantes, como demonstrações de como cada um enfrenta o caudal de sentimentos provocados pela proximidade do fim. São os pacientes os protagonistas, mas é o médico que procura em cada um a sua expressão humana diante da perda, de como constroem seus ritos de passagem. O que se desencadeia quando o fim subverte a medida do tempo, e a vida parece uma história que não se sabe como deve ser concluída, percorre a escrita de Drauzio Varella como crônicas de mortes, algumas anunciadas, outras adiadas.

Encenação frontal

Como um médico de aldeia russo, saído de algum conto ou peça de Tchecov, Varella se aproxima dos doentes com a cuidadosa mão que se agarra à cura, afaga as dores e se agita com a impotência. É especialmente tocante a convivência com a doença de seu irmão, ele também oncologista que, por conhecer o seu mal, assiste, como um espectador privilegiado , mas não menos angustiado, o seu próprio desaparecimento. A encenação de Moacir Chaves é frontal, jogando no colo da platéia as narrativas como descrições desprovidas de qualquer carga emocional, senão aquelas contidas nas histórias.

Não há dramatização, apenas exposição. E ainda assim, a montagem está distante da frieza e de tons sombrios, e em alguns momentos até provoca o riso, algo tensionado, é verdade, mas necessário para equilibrar a inevitável tristeza e lágrimas que possam provocar. O cenário de J.C. Serroni é propositadamente outonal, com árvores secas, folhas caídas e painel em tons ocres, numa sugestão de praça, com bancos ocupados pelos atores e bonecos. Essa ambientação e a música de Tato Taborda enquadram a cena com acordes mais melancólicos do que se observa na interpretação dos atores.

O diretor marca o ritmo dos relatos com as mudanças de luz, assinada por Aurélio de Simoni, elemento determinante na estrutura da montagem. Rodolfo Vaz se adapta com facilidade ao coloquial, costurando os relatos com a intimidade de uma conversa. Regina Braga mantém-se na mesma linha, ainda que confira um pouco mais de ênfase ao que diz.