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Mostra de documentários passa a ter edição semestral

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Monique Cardoso, JB Online

RIO - No cinema documentário, o diretor conta muitas vezes com a sorte, em tomadas de cenas que jamais se repetirão. Com a lente aberta, registra o espontâneo e o imponderável, o fato inédito e o único, sem ensaio nem segunda chance. A principal mostra dedicada ao gênero na América Latina, contudo, chega à 14ª edição recorrendo a um recurso muito usado pela ficção: a repetição, antiga reivindicação do fiel público do gênero. O É Tudo Verdade, que começa no dia 25 de março no Rio e em São Paulo, vai ter três vezes mais sessões que nos anos anteriores, reprisando pela primeira vez os filmes programados em horários e cinemas diferentes. Outra novidade será a periodicidade: a mostra passa a se desdobrar em duas edições por ano, uma no primeiro semestre, com caráter competitivo, e outra no segundo, além do programa É tudo verdade no Canal Brasil, que inicia nova temporada neste sábado.

Antes a maioria dos filmes era exibida uma única vez no Rio e outra em São Paulo. E só. Se uma pessoa ouvia falar bem de um título, não tinha mais chance de assistir justifica Amir Labaki, crítico de cinema e idealizador do festival. Queremos exibir cada título pelo menos três vezes.

O objetivo da realização de duas edições da mostra, que vai ocupar salas do Unibanco Arteplex, do Centro Cultural Banco do Brasil e do Cinemark Downtown, também é claro:

Queremos multiplicar o acesso, estender o calendário dedicado ao documentário no país.

Temas estão mais variados

Sete documentários nacionais inéditos, de média e longa-metragem, estão na competitiva deste ano, que dá um prêmio de R$ 100 mil ao vencedor. Entre eles, Garapa, de José Padilha, exibido recentemente no Festival de Berlim; Cildo, sobre o artista plástico Cildo Meirelles, de Gustavo Rosa de Moura; e Moscou, nova produção de Eduardo Coutinho, que registra os bastidores do espetáculo Três irmãs (Tchecov), do Grupo Galpão, numa experiência realizada apenas para o filme, já que o espetáculo não chegará ao palco.

Na seleção internacional, a estreia de Am I black enough for you?, (Sou negro o suficiente para você?, em tradução livre) que conta a história do cantor e compositor americano Billy Paul, autor do sucesso Me & Mrs. Jones; a rotina de um restaurante com 5 mil lugares, narrada em O maior restaurante chinês do mundo; o inglês Tias duronas, sobre uma entidade que luta em favor das crianças vítimas de abuso sexual na África do Sul; e VJs de Mianmar Notícias de um país fechado, que mostra o trabalho de videorrepórteres que desafiam a ditadura do país asiático, inspirado na morte de Kenji Nagai, japonês morto sem julgamento por portar e registrar imagens com uma câmera.

Na mostra internacional posso dizer sem erro que a cena recuperou seu pluralismo analisa Labaki. A era Bush e o 11 de Setembro reduziram a variedade do gênero, com o crescimento do documentário engajado politicamente no mundo todo. Na safra atual, pelo material que recebemos, ficou claro que isso mudou.

A safra brasileira, conta Labaki, está ousando mais no estilo e na pesquisa de linguagem. Um dos exemplos é o resgate do cinema direto adotado por Padilha em Garapa, que reúne três diferentes retratos da fome no Brasil, sem entrevista, sem cor e sem trilha sonora. O diretor do festival também atribui a ampliação da mostra a um aumento na produção e na chegada do gênero às salas de exibição.

Um terço das estreias do cinema brasileiro nos últimos três anos é formado por documentários conta. Ainda é uma área difícil, mas está infinitamente melhor que há 15 anos, quando começamos. Também aumentou a entrada de documentários internacionais, mas o nacional se sai melhor. Uma das razões é o acesso dos distribuidores aos títulos. Por outro lado, o gênero está num território mais interessante que o cinema brasileiro de ficção.

Competitiva BR

A chave da casa, de Paschoal Samora e Stela Grisotti (SP)

Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski (RJ)

Cildo, de Gustavo Rosa de

Moura (RJ)

Corumbiara, de Vincent Carelli (PE)

Garapa, de José Padilha (RJ)

Moscou, de Eduardo Coutinho (RJ)

Sobreviventes, de Miriam Chnaidermann (SP)