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Elenco não sustenta na montagem autoral de 'Quando se é alguém'

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Macksen Luiz, Jornal do Brasil

RIO - No teatro do italiano Luigi Pirandello o que é está sempre encoberto por aquilo que parece ser. Pessoas são seus próprios personagens, construídos na dúvida sobre o que aparentam.

Em Quando se é alguém, em temporada no Teatro Leblon, não é diferente, ainda que a aparência, a construção da ficção existencial e a consciência da finitude do tempo pareçam adquirir outras superposições narrativas.

O escritor, por paixão por uma jovem, cria um alter ego que ganha vida no amor que a devota e experimenta ser outro para mitigar a passagem dos anos. Descoberta a fraude que criou para si mesmo, se deixa levar pelos que o cercam, o mundo familiar e social, para ser apenas uma estátua paródica de sua celebridade dupla.

Sem o amor, a juventude e sua obra, é somente uma imagem maquiada de seu fracasso. Martha Ribeiro demonstra que a escolha do texto não foi um acaso, como uma qualquer trama pirandelliana, mas um palpável desejo de ver encenado um texto inédito do autor no Brasil.

E sua montagem deixa entrever que a diretora dispõe de algo além da vontade, uma certa visão da obra, que a permite intentar um tratamento mais pessoal ao material dramático. Mas o resultado é, por diversas razões, bastante limitado.

A intencional empostação de um teatralismo carregado não resulta pelas restritas possibilidades do elenco de realizá-la convenientemente. A rigidez da composição da cena, convencional e estática, completada por cenário precário e iluminação inexpressiva, deixa muito pouco espaço para se manter a impressão inicial de identidade diretorial.

Do elenco, além de Cláudio Cavalcanti que, como o poeta, imprime tensão para além dos tormentos do personagem, Roberto Lobo demonstra relativa vivacidade em cena e Rose Abdallah tira algum partido da sua modulação vocal.