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Lúcia Hinz expõe obra em Brasília inspirada em Oscar Niemeyer

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Bolívar Torres, Jornal do Brasil

RIO - A artista plástica potiguar Lúcia Hinz jura que não é de chorar. Nascida num sítio no interior de Caicó, venceu as origens humildes por conta própria, sem se deixar abater pelas dificuldades da vida. Mas, no mês passado, quando se encontrou pela primeira vez com o secular arquiteto Oscar Niemeyer, durante a inauguração da Biblioteca Nacional de Brasília, para a qual doou um painel em homenagem à capital, Lúcia não resistiu e desmanchou-se em lágrimas.

Para registrar o instante emocionado, a artista, que vive há 20 anos na Europa e tem ateliês na Alemanha e na Bélgica, concebeu uma série de 20 telas inspiradas na obra de Niemeyer, que batizou, em referência ao encontro, de Momento mágico. As obras ficarão expostas até o dia 12 de fevereiro no salão de exposições da própria biblioteca.

Quando vi Niemeyer, aquele homem com tanta sabedoria, não me agüentei e chorei lembra Lúcia.

Para mim, encontrá-lo foi como conhecer Pablo Picasso. Sempre fui apaixonada pela obra dele.

Espírito positivo

Assim como as construções do famoso arquiteto, a obra de Lúcia se baseia nas curvas mais especificamente, na silhueta sinuosa da mulher brasileira.

Antes de se mudar para a Alemanha, nos anos 80, a artista trabalhou em projetos sociais desenvolvidos com grupos de mulheres no Nordeste. Nesse momento, começou sua fascinação pela figura feminina, que atravessa todo seu trabalho.

Nessa época, meu objetivo era passar minha filosofia de vida para as mulheres conta Lúcia.

Trabalhávamos com artesanato, mas também com a cabeça, para mostrar a importância da emancipação feminina.

As 20 telas de técnica mista e dimensões variadas da exposição também apresentam a mulher como principal elemento figurativo.

Mesmo meus quadros abstratos apresentam muitas curvas define a artista.

Criei uma figura feminina própria, alta e elegante. É uma mulher sensual, que se mexe, se dobra, e tudo que faz se transforma em elegância.

Minha arte é voltada para a beleza, embora na minha vida pessoal não tenha essa vaidade. Sou muito positiva e gosto de passar esses sentimentos nos meus quadros. Quando cheguei à Europa, não encontrei essa característica nas pessoas, que pareciam marcadas pelo frio. Essa mudança me deixou triste, mas aos poucos fui me acostumando com a nova cultura.

O espírito positivo sempre guiou Lúcia. Sua trajetória está marcada pela superação. Diz a própria, poderia ser contada em dois livros de 500 páginas . Ainda no sítio modesto onde passou sua primeira infância, em uma pequena casa entre as serras, distante do universo cultural, aprendeu, graças a sua curiosidade, alguns dos segredos da arte.

Sétima de uma família de 13 filhos, não pôde estudar. Sem recursos para pintar, fixava seu olhar numa parede branca até formar em sua cabeça a imagem que desejava, ou então desenhava com o carvão da madeira que sua mãe usava para cozinhar.

Na Europa, seu trabalho deslanchou. Na primeira exposição, vendeu três obras. Na segunda, 37. Totalmente adaptada a vida européia, a artista nunca esquece, porém, das suas origens brasileiras.

Moro na Bélgica, tenho ateliê na Alemanha, mas o lugar que eu amo é o Brasil garante.

Quem nasceu aqui dificilmente esquece de onde vem, mesmo quando firma raízes em outro lugar. Mas, ao ver toda cultura, desenvolvimento e progresso da Europa, sabia que precisava aprender para trazer esse conhecimento de volta para o Brasil.