Filipe Quintans, Jornal do Brasil
RIO - Você tinha certeza de que as possibilidades metafóricas de uma doença (incurável) e transmissível pelo ato sexual estavam esgotadas? As testemunhas, filme do francês André Techiné, prova que ainda resta algo do tema a ser explorado. E assim procede numa estrutura repleta de referências à ópera (o que faz pensar que o filme é uma espécie de ópera sem música . Ou quase isso.)
É 1984 e Manu muda-se para Paris, onde vai morar com a irmã num quarto de hotel. Os dois são opostos exatos: enquanto ela está decidida a construir uma carreira no canto lírico, ele passa pela vida como um bólido, vivendo de tudo ao mesmo tempo.
A época, no entanto, não é das melhores para mergulhar na lascívia e nos prazeres da vida. Uma moléstia desconhecida começa a dizimar parcelas da população homossexual e, inevitavelmente, faz do rapaz uma vítima. Quando recusa às personagens a possibilidade de serem meras testemunhas de tempos sombrios, o roteiro prova sua metáfora: os excessos da carne são sempre passíveis de punição. Às vezes com uma tapinha de reprovação, às vezes numa doença incurável.