ASSINE
search button

Diretor de 'O corajoso ratinho...' diz que desenho é volta às raízes

Compartilhar

Marcio Damasceno, Jornal do Brasil

LONDRES - Ele está mais para Mickey Mouse do que para Rémy, o roedor cozinheiro de Ratatouille, de 2007. A inspiração para o personagem-chave de O corajoso ratinho Despereaux, longa de animação digital que estréia hoje no Brasil, vem das ancestrais produções dos estúdios Disney. A saga de Despereaux Tilling, camundongo que não tem medo de conviver com os humanos e com isso acaba se tornando um herói, procura reter o espírito de tempos mais artesanais do cinema de animação.

Despereaux é uma tentativa de retorno às raízes do desenho animado diz Sam Fell, que divide a direção do longa com Robert Stevvenhagen; os diretores conversaram com o Jornal do Brasil nos estúdios Framestone Animations, em Londres.

Fizemos uma animação que transmite o sentimento de que tudo foi feito a mão. Não tem nada a ver com os filmes de animação modernos. Trabalhamos muito com efeitos de luz natural, o que é incomum.

Apesar de criada com computadores, a história do ratinho foi feita visando a transmitir ao espectador a sensação que está vendo um filme feito na técnica clássica. O desenho é baseado no livro infantil A História de Despereaux (Ed. Martins Fontes). Lançada em 2003 pela americana Kate DiCamillo, a obra conseguiu a façanha de ocupar por 96 semanas a lista de best-sellers do jornal New York Times.

O personagem-título, fã dos contos de capa e espada, torna-se amigo de uma princesa ao visitar a biblioteca do castelo real. Visto com desconfiança pelos outros ratos por não ter medo de se aproximar das pessoas Despereaux tem a chance de provar sua coragem quando a ratazana Roscuro trama um plano para seqüestrar a princesa.

No começo do projeto, realmente nos inspiramos nos velhos filmes da Disney, como Pinóquio e Branca de Neve conta Fell.

Essa inspiração esteve presente não somente nos traços e nos movimentos, como também na estrutura da história, dosando drama, aventura e comédia em porções iguais e níveis intercalados, criando o que os diretores chamam de uma refeição completa .

Optamos por um caminho inverso ao que tem sido feito em animação nos últimos 10 anos, uma coisa mais quente e mágica, para famílias, diferente das comédias dinâmicas e cheias de energia lançadas nos últimos tempos afirma o desenhista.

Os matizes suaves e os cenários desenhados com riquezas de detalhes são calcados na pintura flamenga dos séculos 15 a 17. As paisagens, cores e composições lembram quadros de mestres como Roger van der Weyden, Johannes Vermeer, Jan van Eyck e Pieter Bruegel, o Velho.

Como um conto medieval

O cuidado com a iluminação teve um lugar especial, sem grandes contrastes e sem personagens claramente positivos ou negativos. O design usou uma gama restrita de cores, optando pelos tons mais amenos e orgânicos, sem tons saturados ou obviamente digitais.

Buscamos reproduzir a atmosfera de um conto de fadas europeu da Idade Média diz Fell.

Tecidos de verdade foram empregados na produção, para transmitir um toque de realidade nos figurinos. Fabricantes de fantoches criaram trajes em miniatura que foram escaneados, para que os artistas da equipe usassem as imagens como referência. As roupas foram feitas com detalhes suficientes para que os animadores conseguissem ver como seria o caimento de um casaco, caso fosse realmente vestido por um camundongo.

O estilo visual foi projetado por computador, utilizando, no entanto, técnicas de pintura tradicional. Os artistas criaram quadros em duas dimensões, trabalhando manualmente cada detalhe e usando obras de arte medievais como modelos. Só depois os cenários receberam toques tridimensionais, com o devido cuidado para camuflar os efeitos digitais.