Leandro Souto Maior, JB Online
RIO - Andy Summers veio ao Rio dar uma blitz na bossa nova, mas quem ficou devendo credenciais foi o próprio guitarrista do The Police. Roberto Menescal é o anfitrião, e juntos estão registrando cenas para o DVD United Kingdom of Ipanema, mas Summers não está em sua praia.
A dupla apresentou-se na hora do almoço, nesta quarta-feira, no Sesc Ginástico, no Centro. O show teve um clima descontraído, mas a tensão decorrente da falta de ensaios e de intimidade do convidado com os ritmos brasileiros ficou evidente. Além disso, o encontro despertou pouco interesse. A fama e a bagagem dos dois artistas não foram suficientes sequer para atrair o público: o espaço recebeu pouco mais de 50 pessoas.
Menescal começou o show com seu trio, formado por Adriano Giffoni (baixo), Adriano de Souza (piano) e João Cortez (bateria), e logo recebeu duas Cristinas: primeiro a Braga (harpa e voz) e depois a Delanno (voz). O bossanovista também mostrou insegurança, chegando a errar acordes em clássicos batidos do gênero, como A felicidade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
- Ainda bem que o público não conhece a harmonia. Dei várias notas erradas aqui assumiu Menescal.
Antes de chamar o estrelado guitarrista no palco, o brasileiro contou a história do interesse de Summers pela bossa nova, e disse que o encontro era para ter acontecido antes, mas a turnê mundial do The Police adiou os planos.
- Falei para o Andy ir se divertir com o The Police e depois vir ganhar dinheiro aqui com a gente brincou Menescal. Ele é muito corajoso. Não sei se eu iria aceitar se fosse chamado para tocar com o The Police.
Andy Summers tocou apenas violão, e abriu sua participação com dois sucessos de seu grupo, Roxanne e De do do do, de da da da. Esta última ganhou um comentário inspirado de Menescal. Em português, ele disse:
- Como ele não entende a nossa língua, vou revelar para vocês que achei o nosso arranjo em bossa nova bem melhor que a versão original.
A partir daí, o repertório se voltou para clássicos de Menescal, Tom Jobim, Carlos Lyra, Luiz Bonfá, e outros nomes do gênero. Nas versões instrumentais de O barquinho, Bye bye Brasil, Manhã de carnaval e Wave, Summers não tirava os olhos da partitura, e às vezes se mostrava perdido nas bases. Curiosamente, se soltou nos solos, coisa que faz de maneira bastante comedida no The Police.
Boa parte da pequena platéia estava ali pelo guitarrista do The Police, com camisa do grupo e discos de vinil embaixo do braço para tentar um autógrafo do ídolo. E talvez por isso - e também por ser a praia da estrela do show - Every breath youtake, com o característico dedilhado que Summers criou para a canção, foi a mais emocionante e aplaudida da apresentação.
O grupo Bossacucanova se juntou aos músicos para o final, incluindo bases eletrônicas para Samba da minha terra e Só danço samba. Nesse momento, Cris Delanno chamou a platéia para cantar junto, e foi correspondida.
- Aí Andy, quase igual ao Maracanã divertiu-se, lembrando a antológica passagem do The Police por aqui no ano passado e arrancando um sorriso do inglês.
Summers pareceu surpreso com a repentina mudança de sonoridade, e chegou a fingir que tocava, dublando acordes. Depois do show, Menescal revelaria que não houve ensaio do guitarrista com o Bossacucanova.
Andy Summers não esconde que é um aprendiz na bossa nova. E a proposta do DVD é essa mesmo: um brasileiro apresentando o ritmo para um estrangeiro. Vale pelo seu interesse. É no mínimo curioso às vezes até constrangedor - ver um ícone da música mundial, que toca para grandes multidões e que criou um estilo que influenciou milhares de instrumentistas no mundo inteiro, catando milho no braço do violão para menos de cem pessoas. Sorte que apenas alguns trechos do encontro no palco serão aproveitados no DVD, que terá filmagens em diversas locações onde surgiu a bossa nova. O show teve momentos que beirou o amadorismo.
- Podemos fazer melhor, mas eu queria mostrar pro Andy esse clima de improviso do Brasil despistava Menescal no camarim, após a apresentação. - Ele fica muito impressionado com isso, que não existe lá fora, onde é tudo muito rígido.
O guitarrista não fez de Menescal as suas palavras.
- Não dá para tocar a música brasileira de forma descontraída. Não é como o rock. É muito difícil, são acordes muito diferentes assume.
No mesmo dia, a dupla teria mais uma oportunidade de acertar os detalhes, em nova apresentação, às 19h, no mesmo local. O da hora do almoço valeu como um aperitivo.