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RIO - O jornalista Arthur Cantalice será enterrado nesta quarta-feira, às 16h, no Cemitério do Caju. Ele passou mal às 16h30 de ontem, quando discursava na reunião do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio e conselheiro da ABI, começou no jornalismo como crítico de programas de rádio do jornal comunista Imprensa Popular, que deixou de circular um ano depois. Depois, passou a trabalhar no porto do Rio de Janeiro, onde teve posições de liderança que o levaram à direção da antiga União dos Portuários do Brasil.
Pela militância, foi preso, processado e demitido da extinta Administração do Porto do Rio de Janeiro. Com a promulgação da Constituição de 1988, foi anistiado, reintegrado e aposentado compulsoriamente por motivo de idade. Torcedor do América Futebol Clube, teve a tristeza de ver o time rebaixado para a segunda divisão do futebol carioca.
Jornalista apaixonado, Cantalice era um defensor radical da liberdade de imprensa e de expressão. No Sindicato dos Jornalistas, montava o seu Jornal Mural, com recortes de jornais e revistas sobre os mais variados assuntos economia, política, religião, moda, meio ambiente, cultura. A última edição, número 602, está datada de 8 de abril de 2008. Em todas as edições, ele mantinha a frase famosa de Millôr Fernandes: "Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". Acima, exibia o expediente: "Editado pela Recorte Press diretor-editor: Arthur Cantalice".
Ele se notabilizava também pela combatividade e a presença de espírito. Mas nunca abriu mão do bom humor. No último número do Jornal Mural, por exemplo, parodiou a surrada palavra de ordem com "A esquerda desunida será sempre vencida".
Às segundas feiras, invariavelmente, Arthur Cantalice ia ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio para enviar por fax o texto da sua coluna "Negócio é o Seguinte", que escrevia há mais de 20 anos no Correio da Lavoura, jornal semanal de Nova Iguaçu, fundado em 22 de março de 1917. Ele tinha grande apreço pelo jornal iguaçuano, que trazia para distribuir a amigos cariocas e principalmente aos colegas da ABI.
- Gosto muito do grau de independência do Correio da Lavoura. Meus textos não são cortados nem censurados. O jornal não troca opiniões por anúncios, como os outros fazem. Tenho orgulho de fazer parte desse time - disse, em entrevista recente à edição novembro/dezembro da Lide, revista do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio.