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Melodrama de Karim Aïnouz com Fernanda Montenegro vira sensação das mostras paralelas de Cannes

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Um dos realizadores brasileiros mais respeitados no exterior, o cearense Karim Aïnouz (de “O céu de Suely”) dispara como favorito aos prêmios da mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar), vitrine paralela à briga pela Palma de Ouro, no 72º Festival de Cannes, iniciado há uma semana, por onde passou, na segunda, com uma história de amor fraterno entre duas irmãs no Rio dos anos 1950. “A vida invisível de Eurídice Gusmão” pode arrancar troféus expressivos do júri presidido pela cineasta libanesa Nadine Labaki (“Capharnaum”). Fala-se de um prêmio especial para Fernanda Montenegro, que entrega o elenco. Carol Duarte e Júlia Stockler têm atuações irretocáveis como as “manas” Eurídice e Guida.

“É um melodrama tropical”, define Karim, que, desde 2014, quando lançou “Praia do Futuro”, vinha se dedicando a documentários, como “Aeroporto Central”, pelo qual ganhou o prêmio da Anistia Internacional na Berlinale de 2018.

Cinco dias depois de enveredar por um Nordeste com tintas de western em “Bacurau”, um dos longas mais elogiados e debatidos da competição de 2019, Cannes vê “A vida invisível de Eurídice Gusmão” como um canteiro de experimentação sensorial para o cinema brasileiro. “O que eu aprendi produzindo filmes no exterior eu tentei trazer pra este filme, num trabalho de equipe ao lado de um Karim que subverte seu próprio estilo para apostar num formato mais narrativo, numa grande história”, diz o produtor do longa, o carioca Rodrigo Teixeira, que tem outros dois filmes no festival, o thriller sobrenatural “The lighthouse” e o drama romântico “Port Authority”,

Livre adaptação do romance homônimo de Martha Batalha, o filme é uma produção de Teixeira e sua RT Features, agora em parceria com a produtora alemã The Match Factory, que aborda uma cartografia carioca mais central. As filmagens passaram por São Cristóvão, Estácio, Tijuca, Santa Teresa. Na trama de “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, as irmãs Guida e Eurídice são cúmplices no afeto que têm uma pela outra, inseparáveis no dia a dia. Eurídice, a mais nova, é uma pianista prodígio, enquanto Guida, romântica e cheia de vida, sonha em se casar e ter uma família. Um dia, com 18 anos, Guida foge de casa com o namorado. Ao retornar grávida, seis meses depois e sozinha, o pai, um português conservador, expulsa a menina de casa. Guida e Eurídice são separadas para sempre e passam suas vidas tentando se reencontrar.

Com roteiro assinado por Murilo Hauser, em colaboração com Inés Bortagaray e o próprio diretor, o longa, fotografado por Hélène Louvart (que clicou “Pina”, de Wim Wenders), traz o comediante e escritor Gregório Duvivier como o marido de Eurídice, o contador Antenor. Ele tenta impedir que sua mulher galgue o sonho de estudar piano num conservatório e defende a tese de que Guida está morta.

“Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, “A hidden life”, de Terrence Malick, e “Portrait de une jeune fille em feu”, de Céline Sciamma, são os favoritos à Palma de Ouro de 2019, sendo que o longa-metragem mais controverso da competição até agora é uma produção americana que se passa em Sintra, Portugal, com Isabelle Huppert no elenco: “Frankie”, de Ira Sachs. O roteiro é do brasileiro Maurício Zacharias, que escreve com a parceria de Sachs, deliciosos diálogos para um grupo de parentes e amigos de uma atriz veterana, a tal Frankie, vivida por Isabelle, que reuniu seus entes queridos para uma possível despedida.

Nesta terça-feira o festival vai enfim conferir o esperadíssimo “Era uma vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino, com Margot Robbie encarnado a modelo e atriz Sharon Tate, morta em 1969, pela seita de Charles Manson. Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Al Pacino estão no elenco.

Cannes termina no dia 25, com a entrega de prêmios e a projeção de “Hors norme”, com Reda Kateb e Vincent Cassel.

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