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Nota 5 nas regras do folhetim

TODOS LO SABEN (** - Regular)

Divulgação -
Ao lado de Penelope Cruz, Ricardo Darín não consegue driblar a desarticulação de Farhadi
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Ao longo da primeira hora de "Todos já sabem", uma excursão às tradições espanholas feita pelo iraniano Asghar Farhadi (duas vezes laureado com o Oscar de melhor filme estrangeiro, pelo doído "A separação", em 2012, e por "O apartamento", em 2017), percebe-se que existe uma revelação a ser feita por Laura (Penélope Cruz) a Paco, um amor de ontem, vivido por Javier Bardem. O que vai ser contado fede a obviedade. Mas como o longa-metragem segue trilhas inusitadas em seu passeio pelas bodegas, quintas e paióis de feno de Torrelaguna, um município de 4,7 mil habitantes ao norte de Madri, espera-se que essa sensação incomoda de que há algo óbvio no ar vá cair por terra - mas não cai.

Macaque in the trees
Penélope Cruz e Ricardo Darín (Foto: Divulgação)

Em "Todos lo saben" (título original), estamos diante de uma "volta do filho pródigo" (filha, no caso) classicamente bíblica: o regresso de Laura, após uma temporada longa em Buenos Aires, com um marido alcóolatra, Alejandro (o divo Ricardo Darín), que se redimiu em preces a Cristo, vai liberar pragas sobre sua terra natal. A maior delas é a abertura de uma caixa de Pandora chamada remorso, um remorso que Paco guardou por décadas, relativo às violências que sofreu do pai de Laura por ter nascido pobre. Por tudo que se lê aqui, dá para farejar elementos de "Selva de pedra", de "Fera ferida" e outras telenovelas no roteiro de Farhadi: seu filme é folhetim, assumido. Ele só não é rasgado, não por contenções de disciplina cultural como se vê na estética folhetinesca de Hirokazu Koreeda ("Assunto de família") ou de Arnaud Desplechin ("Os fantasmas de Ismael"), mas pela falta de intimidade de seu realizador com os códigos do melodrama. Nesse filão, não se pode temer o excesso. Farhadi o teme. Por isso, suas viradas de trama esbarram no ridículo e Darín parece emperrado. Falta... latinidade. E sobram esquematismos cerebrais do cinema autoral - aqueles que o diretor sempre driblou. (R.F.)

Divulgação - Penélope Cruz e Ricardo Darín