ASSINE
search button

Caras pintadas

Exposição 'Ancestralidades contemporâneas' mostra festas populares da Bahia, Sergipe e Rio

Cacau Fernandes/ Divulgação -
No Carnaval, os foliões do Bloco da Lama, em Paraty, mergulham no mangue
Compartilhar

Na exposição “Ancestralidades contemporâneas”, que abre hoje no Centro Cultural Light, no Centro, o público vai poder conhecer manifestações populares bem pouco divulgadas no Brasil. São quatro festas da Bahia, Sergipe e Rio registradas pela fotógrafa Cacau Fernandes, que separou 40 imagens para sua primeira individual na cidade.

“Fotografei muitas festas em estados do Nordeste e também Goiás e Rio. Com corpos pintados, só essas, mas soube de outras e já estou em pesquisa para em breve fotografar”, conta Cacau. Ela se refere às festas em que os participantes têm os rostos e corpos cobertos de preto, com óleo ou tinta: “Os cão de Jacobina” - grupo folclórico da cidade de Jacobina criado na década de 1940 - e “Nêgo fugido” - manifestação cultural sobre a abolição pela ótica dos negros no Recôncavo, encenada pelos moradores de Santo Amaro da Purificação -, na Bahia; e “Lambe sujos e Caboclinhos” - cortejo na cidade de Laranjeiras que conta a história dos escravos e dos índios que eram contratados para recapturá-los -, em Sergipe. No Rio, tem “O bloco da lama”, bloco de carnaval criado por um grupo de amigos em 1986 em Paraty, onde os foliões mergulham no mangue e saem pelo Centro Histórico cobertos de lama. “Todas conversam sobre nossos ancestrais e me fizeram pensar na antropologia dos homens das cavernas”, diz.

A passagem de Cacau por essas festas rendeu um acervo de mais de dez mil fotos. “Alguns temas foram fotografados mais de uma vez. Pude descobrir um Brasil que o próprio Brasil desconhece. As obras têm em comum manifestações culturais que remontam a época da escravidão e as pessoas precisam saber e entender nossas pluralidades”, comenta.

Sobre as características de cada festa, Cacau fala que cada uma tem sua peculiaridade, sendo que “Nêgo fugido” e “Lambe sujos e Caboclinhos” resgatam com mais força a história do sofrimento passado. “Eles usam a negritude das tintas para mostrar a diferença da cor, para certificar o quanto se orgulham de ser negros e mostrar a importância das lutas por igualdade e a vitória de serem libertos”, diz. Apesas de serem manifestações ancestrais, as festas são pouco conhecidas. “O ‘Bloco da lama’ é um pouco mais famoso, as demais são fontes de estudo. São riquíssimas e só agora vêm sendo mais exploradas por fotógrafos. Mas o número ainda é pequeno”, avalia.

“Ancestralidades contemporâneas” fica no Rio até 1/3 e depois segue para Petrópolis e Vale do Paraíba. As fotografias expostas também estão à venda. Os interessados podem fazer uma reserva e adquiri-las ao final da circulação da mostra.

Serviço

ANCESTRALIDADES CONTEMPORÂNEAS - Fotos de Cacau Fernandes. Centro Cultural da Light/Grande Galeria (Av. Mal. Floriano, 168 - Centro; Tel.: 2211-7268). Seg. a sex., das 9h às 19h. Entrada franca. Até 1/3.