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Crítica - Praça pública: O desmonte da hipocrisia

Divulgação -
O decadente astro de TV Castro (Jean-Pierre Bacri) perturba sua ex, Hélène, vivida por Agnes Jaoui
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Tocados de maneira irretrocedível (e lúdica) por “On connaît la chanson”, mítico filme de Alain Resnais de 1997 (“Amores parisienses”, no Brasil), a atriz e cineasta francesa Agnès Jaoui e seu parceiro (e ex-marido), o ator e roteirista Jean-Pierre Bacri, vêm construindo, juntos, uma obra cômica, focada na importância que as aparências têm para as relações burguesas, profissionais ou afetivas. “O gosto dos outros”, um fenômeno de bilheteria na França em 2000, com cerca de 5,2 milhões de ingressos vendidos, rendeu à dupla uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

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O decadente astro de TV Castro (Jean-Pierre Bacri) perturba sua ex, Hélène, vivida por Agnes Jaoui (Foto: Divulgação)

O trabalho seguinte, “Questão de imagem” (2004), deu a eles o prêmio de melhor roteiro em Cannes. Cada longa-metragem, com Agnès sempre na direção, vem refinando o humor (e a melancolia) deles, afinando o modo como a realizadora – egressa do teatro, onde também é dramaturga - domina os códigos narrativos e os processos técnicos específicos dos sets de cinema. É o que salta aos olhos neste novo trabalho dela e de Bacri, “Place publique”, visto por 380 mil pagantes em sua estreia em seu país. Traduzido no Brasil literalmente como “Praça pública”, esta comédia de temperos azedos se passa basicamente numa só locação, a casa de luxo da produtora de TV Nathalie (Léa Drucker).

O local vira um picadeiro para o show de horrores que traduz a decadência moral e emocional do apresentador de televisão Castro (Bacri, em excepcional atuação), cuja arrogância derrubou sua glória. Uma ciranda de figuras excêntricas – mas de uma excentricidade polida, aburguesada – desfilam na festa, traduzindo o que existe de fútil na cultura das celebridades. Agnès brilha em cena como Hélène, a ex-companheira de Castro, que enxerga na alegria um caminho para cicatrizar suas feridas. Ela ilumina o filme, que aposta na simplicidade visual e no charme de boas atuações – calçado numa montagem que sustenta o ritmo ao explorar diferentes cômodos de sua locação. 

Bom - ***

* especial para o JB