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Suspense pessoal marca 'A ira de Narciso', que estreia temporada hoje em Botafogo

Marcelo Almeida/Divulgação -
Gawronski encara mistério no cenário que reproduz quarto de hotel do protagonista
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No chão do quarto de um hotel no Leste Europeu, algumas manchas de sangue; na cabeça, nenhuma memória do que se passara entre suas quatro paredes, além de uma relação sexual com um quase desconhecido, seguida de um necessário cochilo.

O mistério sobre o que teria causado as manchas – e se elas eram mesmo de sangue – dá início ao suspense psicológico que guia “A ira de Narciso”, peça que entra em cartaz hoje no Teatro Poeirinha, voltando ao Rio depois de duas apresentações no Tempo Festival, em outubro passado.

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Gawronski encara mistério no cenário que reproduz quarto de hotel do protagonista (Foto: Marcelo Almeida/Divulgação)

Em seu pessoal estilo de autoficção, o autor franco-uruguaio Sergio Blanco projeta parte de si em um professor que vai a Liubliana, capital da Eslovênia, participar de um Congresso sobre o mito de Narciso. Na véspera, chama ao quarto do hotel – montado no cenário de André Cortez –um rapaz que conhece por aplicativo de paquera. Satisfeito, ele se despede e pega no sono. Quando acorda, se depara com as manchas e passa os dias seguintes investigando o que teria acontecido para elas estarem ali, passando ao que seria externo e ao que estaria dentro de sua mente, como o espelho no mito grego.

“Quem é esse Igor?”, pergunta, a respeito do breve affair esloveno, o protagonista, quase ao fim do espetáculo, no monólogo interpretado por Gilberto Gawronski, que, logo no início avisa à plateia. “Eu não sou o Sergio Blanco. O meu nome é Gilberto. Eu vou fazer todo o possível para me parecer com ele – ele, propriamente não, mas o personagem do Sergio – e vou pedir que vocês todos também façam o esforço de acreditar que eu sou ele”, na mais simples explicação da autoficção teatral, em que o autor projeta sobre o texto aspectos de sua personalidade, mas sem necessariamente basear-se em fatos reais – ou, ao menos, ater-se a eles..

“Ele se projeta no próprio espetáculo, já determina um ‘duplo’”, teoriza Gawronski, que passou 2018 vivendo o gradual alter ego do autor, sob a direção de Yara de Novaes e tradução de Celso Curi, idealizador e produtor da montagem brasileira – “que Viu no Festival Internacional de Teatro do Chile e me deu de presente no meu aniversário“, acrescenta.

Para encarar os mistérios do personagem, Gawronski conta que não buscou referência além do próprio texto de Blanco. “Só decoro e tento entender e botar alguma emoção. O texto mesmo já traz suspense e investigação do próprio eu, faz aflorar personagens que você tem dentro de você”, afirma o ator, que faz piada com suas próprias identificações, ao comentar que concorre pela sexta vez ao Prêmio Shell de melhor ator, ainda sem ter vencido.

“Sou a Meryl Streep do Prêmio Shell… se bem que ela ganhou e continuou. Talvez, esteja mais para Leonardo Di Caprio”, brinca. Ante um desejo de boa sorte.

Serviço

A IRA DE NARCISO TEATRO POEIRINHA. Rua São João Batista, 104, Botafogo. Tel.: 2537-8053. Terças e quartas, às 21h. Até 20/2. Entrada: R$ 50 (inteira) / R$ 25 (meia). Capacidade: 50 espectadores. teatropoeira.com.br/narciso.