ASSINE
search button

Teatros de absurdos

Situações surreais marcam peças que estreiam nos palcos da cidade

Divulgação -
Vendedor anuncia a suposta invasão de "Os javalis"
Compartilhar

Os estilos são bem diferentes, mas a inspiração em circunstâncias inusitadas permeia algumas das peças que estreiam por agora no Rio de Janeiro.

Em sua primeira montagem no Brasil, a jovem e premiada autora inglesa Lucy Kirkwood parte de um acidente nuclear para reunir, depois de quase 40 anos, um casal a uma amiga. O casal de físicos nucleares Dayse (Analu Prestes) e Robin (Mario Borges) vive isolado uma região de litoral assolada pelo desastre, quando recebe a vista de Rose (Stela Freitas) – colega de ambos e ex de Robin.

O texto da autora, de 34 anos e vencedora dos prêmios Critic’s Circle, Evening Standard e Olivier Awards de melhor nova peça, por “Chimerica”, em 2013, foi escolhido pelo trio para celebrar sua parceria de, também, quatro décadas. Lucy nem era nascida quando os três atuaram juntos em “Aurora da minha vida”, de Naum Alves de Souza, em 1982. A peça tem ensaio aberto hoje, a R$ 20, e estreia para o público no sábado, mas, depois, segue em temporada de quinta a domingo.

O diretor Rodrigo Portella foi chamado depois de trabalhar com Analu em “Tom na fazenda”, pelo qual ganhou o Prêmio Shell de melhor direção, e buscou “desconstruir um pouco a coisa realista” que havia na montagem original, assistida em Londres pelo tradutor Diego Teza. “Em vez do cenário com todos os elementos, usamos um piso com duas toneladas de pedra, para criar a ideia de erosão, não só do local, mas dos personagens, que vão transparecendo seus sentimentos e ressentimentos, com o peso do tempo”, conta.

Já a autoironia é mantida. “Mesmo tão jovem, a Lucy consegue tratar com humor questões muito ligadas a essa fase da vida, de proximidade crescente com a morte, nos papos que os personagens travam, sobre o corpo, sobre doenças…”, avalia.

Inspirada em um mestre do Teatro do Absurdo, mas com texto original, “Os javalis” estreia hoje no Gláucio Gill com olhar satírico sobre a “pós-verdade” e as enxurradas de notícias falsas online. De “Rinocerontes” – peça escrita em 1960 por Eugène Ionesco (1909-1944) – vem, a referência de animais tomando o poder.

Macaque in the trees
"Rio 2065" viaja no tempo para o futuro e de volta a disputas coloniais (Foto: Divulgação)

O texto de Gil Vicente Tavares é bem diferente, entretanto, conta o produtor e ator Lucas Lacerda. Sob a direção de Emiliano d’Avila, ele vive um vendedor que invade a casa onde vive o personagem interpretado por Junior Vieira anunciando uma invasão de javalis que traria o fim da humanidade. “Em comum, são animais características sensoriais muito diferentes das do ser humano”, relata Lacerda. “A história se passa sob a tensão entre acreditar em uma ameaça que, se for real, é muito grave, mas, ao mesmo tempo, não parece nada verossímil. A gente permeia essa discussão do bombardeio de ‘fake news’, da ‘pós-verdade’... e do fato de estarmos muito propícios a acreditar no que já está vinculado às nossas crenças – por mais lógica com que algo as contradiga.

O futuro próximo e o passado distante se encontram como a ficção científica e o besteirol, em “Rio 2065”, de Pedro Brício, que celebra os 20 anos da companhia Os Dezequilibrados, subvertendo o progresso tecnológico nas precariedades crônicas e remetendo às disputas coloniais.

Com referências a “Blade runner” e aos livros de história, um policial – em papel dividido entre José Karini e Lucas Gouvêa – e sua namorada, uma replicante vivida por Letícia Isnard, em meio à disputa de antigos colonizadores.

Macaque in the trees
Vendedor anuncia a suposta invasão de "Os javalis" (Foto: Divulgação)

“Os holandeses, que estiveram em Recife, compraram Macaé, pelo petróleo; os franceses queriam Niterói”, conta Brício. “Não é para parecer algo bem feito. É uma ficção científica meio ‘filme B’”, brinca. Além do texto, essa atmosfera é dada pelo cenário de Carolina Sugahara e pelo figurino de Joana Lima Silva, além de ressaltado pela iluminação de Renato Machado.

“Os policiais usam naves espaciais, mas falta combustível – como andou acontecendo recentemente. Por isso, trago de conflitos muito antigos a problemas atuais para imaginar um futuro onde, por maior a tecnologia, as coisas mais banais continuam não dando certo”, diverte-se Brício.

__________

Serviço

AS CRIANÇAS

TEATRO POEIRA. R. São João Batista, 104 - Botafogo. Tel.: 2537-8053.

De quinta a sábado, às 21h; domingos, às 19h. Até 31/3. Entrada: R$ 60 (entrada) / R$ 30 (meia). Vendas online em tudus.com.br. Capacidade: 145 espectadores. *Ensaio aberto hoje, a R$ 20. Amanhã, sessão somente para convidados.

OS JAVALIS

TEATRO GLÁUCIO GILL. Praça Cardeal Arcoverde, s/n - Copacabana. Tel.: 2332-7904. Quintas e sextas, às 21h. De hoje a 1º/2. Entrada: R$ 40 / R$ 20. Vendas no local ou no ingressorapido.com.br. Capacidade: 100 espectadores.

RIO 2065

CCBB. R. Primeiro de Março, 66 - Candelária. Tel: 3808-2020. De 11/1 a 25/2. De quarta a segunda-feira, às 19h. Entrada: R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia). Vendas no local ou en eventim.com.br. Capacidade: 172 espectadores.

Tags:

arte | cartaz | estreia | pela | teatro