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Encontro comemora 10 anos da Filarmônica de Minas Gerais e 70 de Arnaldo Cohen

Divulgação -
FÁBIO MECHETTI
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Com obras de Beethoven, Gounod e Mussorgsky, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais comemora hoje três aniversários: o de sua primeira década de existência e o dos 70 anos de Arnaldo Cohen, solista na peça do compositor alemão, além dos dois séculos do musicista francês, in memorian.

O pianista brasileiro, residente nos Estados Unidos, se apresenta à frente da orquestra no Concerto nº 3 de Beethoven para piano e orquestra em dó menor, opus 37, com o qual se consagrou em 1972, aos 24 anos, vencendo o 1º Prêmio no Concurso Internacional Busoni de Piano, na Itália.

Escrito entre 1799 e 1803, ano em que foi finalmente mostrado ao público, em abril, o Concerto nº 3 teve o próprio Ludwig van Beethoven (1770-1827) como seu primeiro solista ao piano, na premiére, em Viena.

Ele é frequentemente retomado por Arnaldo Cohen, que afirma tentar “sempre descobrir, a cada performance, um pouco mais de seus segredos”.

Também graduado em violino e primeiro brasileiro a assumir cátedra vitalícia na Escola de Música da Universidade de Indiana, ele reside nos Estados Unidos desde 2004, após passar 23 anos em Londres, onde professor na Royal Academy of Music e no Royal Northern College of Music.

Sem ele, a Filarmônica de Minas Gerais também apresenta “Fausto: Música de balé”, celebrando os 200 anos de seu autor, o francês Charles Gounod (1818-1893), e “Quadros de uma exposição”, obra mais conhecida do russo Modest Mussorgsky (1839-1881).

O nome de “Quadros” se deve à inspiração nas visitas frequentes à exposição póstuma de obras do seu amigo Victor Hartmann, pintor e arquiteto morto precocemente aos 39 anos, em São Petersburgo.

Já a “Música de balé” corresponde ao início do quinto ato da ópera “Fausto”, de 1859. Ela foi composta por Gounod dez anos depois, para sua reestreia na Ópera de Paris – a casa exigia um balé entre os atos das óperas que nela fossem apresentadas. Depois, passou a ser bastante executada como peça independente por orquestras de todo o mundo.

A regência é de Fabio Mechetti, diretor artístico e maestro titular da Filarmônica de Minas Gerais desde sua criação, em 2008.

Nascido em São Paulo, em 1957, ele se tornou recentemente o primeiro brasileiro a dirigir uma orquestra asiática, sendo nomeado regente principal da Filarmônica da Malásia, depois de ser titular das sinfônicas de Syracuse, Spokane e Jacksonville, nos Estados Unidos.

Entrevista: Maestro e pianista falaram ao Caderno B sobre o concerto de hoje e as músicas envolvidas – inclusive, ambos discorreram sobre o desafio de entrosar o solista ao piano e a orquestra que o acompanha.

FÁBIO MECHETTI - “Deve existir uma coesão de sentimento”

Macaque in the trees
FÁBIO MECHETTI (Foto: Divulgação)

JB: Maestro, essa apresentação pode ser considerada o auge da Filarmônica de Minas Gerais, em sua primeira década?

Sempre é bom voltar a fazer música com um dos maiores pianistas brasileiros de todos os tempos e retornar ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas foram muitas as apresentações emblemáticas da Filarmônica ao longo de dez anos: sua estreia, sua primeira turnê internacional, sua primeira turnê nacional, suas primeiras gravações, a construção e abertura da Sala Minas Gerais em fevereiro de 2015 etc. Exatamente esses momentos cumulativos de busca da excelência musical que fizeram desta nossa primeira década algo a ser celebrado e compartilhado.

O que o senhor considera mais essencial para manter coesão entre piano e orquestra?

Coesão é essencialmente uma questão de pulso. Mas, num célebre compositor como Beethoven, executado por alguém do porte de Arnaldo Cohen, deve existir também uma coesão de sentimento, de posicionamento sobre a obra e de como ela se projeta. O fazer musical envolve sempre um comprometimento com essa responsabilidade, que é a de reviver a obra concebida de maneira a transmitir sua profunda mensagem.

A escolha das demais peças foi sua? O que destaca nelas?

Em 2018 celebramos os 200 anos de Gounod, o que inspirou a escolha de sua Música de balé da ópera Fausto. A obra “Quadros de uma exposição”, de Mussorgsky, é uma fonte de inspiração constante para dezenas de orquestradores que, ao longo décadas, deram asas à imaginação com seus coloridos singulares. Essa versão de nosso Francisco Mignone é pouco conhecida, tendo sido resgatada, revisada e editada recentemente. Acho que o público ficará positivamente impressionado com seu impacto.

ARNALDO COHEN - “Respirar como se fosse pelo mesmo pulmão”

Macaque in the trees
ARNALDO COHEN (Foto: Divulgação)

JB: Quase meio século depois de o senhor vencer o Concurso Internacional Busoni de Piano com o “Concerto nº 3” de Beethoven, qual é a sua relação com ele? Ainda o pratica de forma constante?

Esse concerto é um velho amigo, um parceiro que me acompanha há muitos anos e que compartilhou importantes momentos da minha vida. Além do concurso Busoni, que abriu as portas do meu futuro profissional, o “Concerto Nº 3 de Beethoven” esteve presente em várias ocasiões marcantes da minha carreira como, por exemplo, ser o solista da Royal Philharmonic [de Londres] regida por um ídolo da minha infância, o violinista Yehudi Menuhin [1916-1999]. Depois de todos esses anos, eu o vejo de maneira mais transparente, tentando sempre descobrir, a cada performance, um pouco mais de seus segredos, o significado de cada nota, de cada pausa. Naturalmente o estudo é contínuo, não para acertar as teclas corretas mas para dar um significado a cada uma.

O que considera mais essencial para coesão entre piano e orquestra durante o concerto?

A performance de um concerto para piano e orquestra envolve diversos elementos que se tornam essenciais para o sucesso da obra. Certamente a comunhão de ideias e conceitos emocionais entre o solista e regente é um deles. A necessária sensibilidade de ambos para dialogar e, consequentemente, compreender a importância do que o outro “diz” tornará a obra mais transparente e compreensível para o ouvinte. Regente e solista idealmente devem respirar como se compartilhassem os mesmos pulmões. Um ótimo instrumento, uma ótima orquestra e uma ótima acústica seriam as cerejas desse bolo.

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SERVIÇO

ARNALDO COHEN E FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS

THEATRO MUNICIPAL. Praça Floriano, s/n, Cinelândia. Tel.: 2332-9191. Hoje, às 19h30. Bilheteria a partir das 10h. Ingressos de R$ 10 a R$ 96 – detalhes em www.theatromunicipal.rj.gov.br

Divulgação - ARNALDO COHEN