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A hora é delas: Peça, livro, mostra e rodas de samba evidenciam a força feminina na arte

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A peça "Por elas" é um grito de alerta contra o feminicídio e as outras formas de violência presentes na cultura
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Um livro costurado por mãos femininas, em um crochê revolucionário de ideias que subverte as regras do mercado editorial, uma roda de samba que nasce da “Primavera das Mulheres”, um espetáculo teatral que brota da produção intelectual de uma magistrada. Em um momento fértil de obras de arte gestadas por elas, as reflexões estão em livros, peças, debates, na música e no audiovisual. A hora é delas na cena cultural carioca.

Macaque in the trees
A peça "Por elas" é um grito de alerta contra o feminicídio e as outras formas de violência presentes na cultura (Foto: Divulgação)

Amanhã, às 19h, estarão no palco do Teatro de Arena da Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso 25 — Centro; Tel.: 3980-3815) diferentes histórias tecidas pela diretora e autora Sílvia Monte, em parceria com advogado e dramaturgo Ricardo Leite Lopes. Inspirado na tese de doutorado da juíza Adriana Ramos de Mello, o espetáculo “Por elas” é um grito de alerta contra o feminicídio e parte integrante da campanha “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”, mobilização orquestrada pela sociedade civil e poder público em vários países simultaneamente.

“Essas mulheres são mortas dentro de casa, dividem a vida com o algoz, que as matam com facas, batendo suas cabeças na pia, enforcando com fio de telefone. A violência contra a mulher é cruelmente democrática, está muito próxima, ao nosso lado. E qual o papel que estamos tendo nisso?”, provoca Sílvia.

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Heloisa Buarque de Hollanda (Foto: Divulgação)

Impactada com a tese de doutorado da magistrada, a diretora teatral começou a pesquisar sobre violência doméstica. Foi a campo, conversar com profissionais que atuam nos casos, ouviu mulheres e, quando se deu conta, estava relembrando histórias que viveram perto, nos relatos de amigas e pessoas próximas. “A mulher cai no chamado ciclo da violência, uma perigosa repetição de padrões de comportamento. Começa com ofensas que vão minando a sua autoestima até chegar a agressões que marcam o corpo. Em seguida, vêm os pedidos de desculpas, flores, presentes, promessas. É preciso dizer a essa mulher que, se ela não romper o ciclo, a chance de ser morta é imensa”, resume.

A peça costura relatos de sete personagens de várias classes sociais, idades, perfis distintos, todas marcadas pela relação de violência com a figura masculina. O espetáculo vem modificando a visão de mundo do elenco.

Macaque in the trees
Eloanah Gentil (Foto: Anna Mantuano)

“Comecei a refletir muito sobre as minhas próprias relações. A peça me ajudou a entender o que é abusivo e a estabelecer limites saudáveis. A potência do espetáculo é justamente a de desenvolver a consciência. Muitas mulheres não se defendem porque não conseguem ver, com clareza, que estão sendo vítimas da violência”, explica a atriz Renata Guida, que faz o papel de Ieda, em uma das histórias que se entrecruzam e expõem o machismo, por vezes praticado por elas mesmas: “Não idealizamos, muitas vezes é a mulher que aponta o dedo”.

Neste cenário de efervescência da produção cultural feminina, a professora Heloisa Buarque de Hollanda, uma das personalidades mais incensadas do meio acadêmico no País, promove debate em torno de seu novo livro “Explosão feminista”, segunda-feira, às 19h, na Blooks Livraria (Praia de Botafogo 316 — Botafogo; Tel.: 2237-7974). Um livro-ocupação, marcado pelo encontro das mais diferentes mulheres, que dividem a escrita dos capítulos com Heloisa em uma inédita conexão de ideias, proposta afinada aos novos tempos.

“Em 2013, cada faixa era uma demanda, apareceram as questões das mulheres negras, indígenas, religiosas, cristãs, lésbicas, o que não acontecia antes no feminismo. Elas também usaram muito bem a internet, com blogs e hashtags que viralizaram e ganharam uma repercussão que esses temas não teriam nos meios de comunicação tradicionais”, conta Heloisa, que ganhou “um monte de netos” no processo de escrita do livro.

O Grégora Arte e Café (R. Cândido Mendes 98, Glória) cede espaço à exposição “Reinvenção da existência”, a partir de quinta-feira. Já o grupo Flor do Samba se apresenta no Fuska Bar (R. Cap. Salomão 52, Humaitá), sábado. E conta a reação dos homens à roda de samba, cada vez mais lotada em todos os eventos: “Eles dizem: ‘Nossa, só mulheres’. Mas depois a reação é ‘Nossa, elas são competentes!’”. Em todos os campos. 

Divulgação - Heloisa Buarque de Hollanda
Anna Mantuano - Eloanah Gentil