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Galpão reprisa parceria de Nós em Outros, criada após interações nas ruas

Guto Muniz/Divulgação -
Iluminação de Nadja Naira forma ambiente vermelho e preto, com cenografia de Marcelo Alvarenga
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Com uma “atitude de escuta” dos desconhecidos com os quais tomaram contato nas ruas de Belo Horizonte, integrantes do grupo Galpão construíram a peça “Outros”, que inaugura hoje sua temporada carioca, no teatro Sesc Ginástico, no Centro, onde fica até 23 de dezembro, depois de um mês em cartaz na capital mineira e antes de seguir para São Paulo e Sul, em 2019.

O espetáculo dá continuidade a “Nós” (2016), inclusive na parceria com o dramaturgo Marcio Abreu, que volta a dividir a autoria com Eduardo Moreira, desta vez estendida a mais um ator do Galpão, Paulo André, em uma escrita que passa a seis mãos.

Os autores não transcreveram o que ouviram das pessoas com as quais interagiram em BH, mas, segundo eles, procuraram levar esse princípio de percepção dos outros para os trabalhos de improvisação cênica sobre os quais criaram a peça, que, além de falas, utiliza pausas de silêncio e bastante linguagem corporal.

“Não usamos nenhuma palavra que nos foi dita no texto – o que, aliás, nunca fiz nos meus trabalhos”, explica Abreu, que também dirige “Outros”, como fez com “Nós”, há dois anos. “Nas performances de rua, os atores criaram um tipo de sensibilidade de escuta para o que a peça viria a ser”, acrescenta o fundador da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, e melhor diretor de 2012 no Prêmio Shell, por “Esta criança”.

Um desses exercícios, em grupo, foi levar a mesa de reuniões do Galpão para um percurso pelo Centro de BH, com sete pontos de parada. “Em cada exercício, algum dos atores lançava um assunto e, em dado, momento, os atores paravam de falar, dando espaço para que as pessoas conversassem, entre elas”, exemplifica.

Individuais, outras aproximações com o público foram divididas entre os atores. “A Inês [Peixoto], por exemplo, costurava roupas de pessoas na rua. Já o Júlio [Maciel] convidava as pessoas para ‘perderem’ sete minutos e tomarem um café com ele”, descreve o diretor. “Foram pesquisas entre dimensões pública e privada, levando a espaços públicos situações daquilo que se entende como privado”.

Para o ator e autor Eduardo Moreira, coube a missão de chamar pessoas em pleno Centro e convidá-las a trocarem de roupa com ele, ali mesmo. “Não chegamos a ficar seminus”, pondera. “No caso de uma menina, pusemos uma toalha”, exemplifica, explicando o processo em sintonia com o diretor. “Não houve transposição exata [das interações de rua], ficou muito mais uma atitude de escuta. Depois, fomos fazer os ensaios em sala falando muito de quem não estava presente”.

Se não houvesse transcrição das falas na rua, houve das sessões que deram origem à forma de “Outros”, entre os atores. “A partir daí, criamos uma série de improvisações. Umas foram até gravadas e, a partir daí, fomos construindo o texto”, relata Moreira. “Um texto muito entrecortado, em todos os personagens e atores, que cria uma espécie de partitura teatral”, analisa ele, que responde com naturalidade ao ser questionado sobre se não ficaria difícil de entender.“É um texto menos para ser compreendido e mais para ser vivenciado. Ele se aproxima da performance, da experiência teatral. Em BH, o público reagiu com muita emoção”, conta.

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SERVIÇO

OUTROS SESC GINÁSTICO Av. Graça Aranha, 187 - Castelo; Tel.: 2279-4027. Estreia hoje, excepcionalmente, às 20h. Quartas a sábados, às 19h. Domingos, às 18h. Até 23/12. Entrada: R$ 30 / R$ 15. Bilheteria das 13h às 20h. Capacidade: 513 espectadores.