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Produção venezuelana baseada na luta da deputada Tamara Adrián, premiada em festivais na Europa e nos EUA, é tema de debate hoje no Estação Rio

Divulgação -
Luis Fernández interpreta a mulher trans em "Tamara"
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Radicada nos EUA há mais de uma década, onde leciona arte dramática e dá dicas sobre direção de cinema, Elia K. Schneider colocou o cinema da Venezuela, seu país natal, no bolso duas vezes, sempre devassando convenções morais: a primeira, foi em 2004, com “Punto y raya”, premiado thriller sobre controle de fronteiras; a segunda, mais recente, chega esta semana ao Rio, falando de identidade de gênero, “Tamara”. Lançado há dois anos em festivais estrangeiros com enorme sucesso de público, o drama de superação sobre Tamara Adrián, a primeira deputada trans da política venezuelana, estreia em circuito carioca nesta quinta, mas será tema de um debate hoje, às 21h30, no Estação NET Rio. Ao fim da projeção, haverá debate com Gilmara Cunha, presidente da ONG Conexão G. e a primeira transexual brasileira a receber a medalha Tiradentes, e com o crítico Marcelo Müller. O longa-metragem é protagonizado por Luis Fernández, que dá vida à mudança física (e social) do advogado Teo em Tamara, uma voz combativa a favor da diversidade sexual no Congresso de sua pátria.

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Luis Fernández interpreta a mulher trans em "Tamara" (Foto: Divulgação)

“Existe um ranço muito machista nos países sul-americanos e a Venezuela é representativa desse espírito de preconceito”, diz Elia, em entrevista ao JB por telefone.”A ideia de fazer ‘Tamara’ como uma narrativa mais introspectiva, menos interessado no espetáculo e mais apoiada na reflexão, era respeitar não apenas a própria Tamara mas o olhar do espectador. Estou falando de uma pessoa que acreditou na diferença entre corpo e identidade e apostou naquilo que realmente representava sua subjetividade”.

Classificado como “virtuoso” por Dennis Harvey, crítico da revista “Variety”, numa resenha cheio de adjetivos entusiasmados em prol do desempenho de Luis Fernández, “Tamara” ganhou prêmios em festivais como os de Milão e o de Santa Bárbara não apenas pela discussão da transfobia mas por sua abordagem existencialista. As escolhas de Teo (Fernández) acerca de sua própria orientação sexual e de sua real identidade passa por uma série de confrontos morais com a cultura sexista dos países latinos. “O cinema venezuelano tem uma produção pequena e consegue, a duras penas, manter-se em destaque em nosso próprio circuito. ‘Tamara’ veio de uma carreira internacional elogiada quando estreou e, sem se deixar abater pela intolerância, conseguiu se manter em cartaz, semeando debates”, elogia Elia. “Só o processo de trabalho com Luis nos sets, vendo a entrega de um ator a um papel tão complexo, já compensou todo o trabalho”.

O painel corajoso de batalhas éticas narrado por Elia ampliou a fama mundial de Tamara Adrián, contemplada recentemente com o prêmio Future of Manhood (Futuro da Masculinidade) da instituição Promundo, que defende a equidade de gênero e a prevenção da violência em 22 países. Sua luta segue.