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Irmandade em preservação

The Kinks celebram 50 anos de influente álbum, lançam edição especial e cogitam volta aos palcos

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The Kinks celebram 50 anos de influente álbum, lançam edição especial e cogitam volta aos palcos
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A última quinta-feira marcou o aniversário de meio século de um discos mais influentes da música pop. Sim, em 22 de novembro de 1968, os Beatles puseram nas lojas seu álbum branco, mas não é a ele a referência aqui. No mesmo dia, seus conterrâneos The Kinks lançaram o primeiro álbum composto por uma banda de rock todo em torno de um tema específico, relançado agora em edição especial com faixa extra inédita e um aceno à chance de se reunirem após mais de 20 anos sem tocarem juntos.

Relançado em versão comemorativa na Inglaterra, com dois LPs (em estéreo e mono), capas alternativas e encarte em livro de capa dura, “The Kinks are The Village Green Preservation Society” saiu em meio ao período mais criativo de seu vocalista e principal compositor, Ray Davies, coincidindo com a proibição da banda de tocar nos EUA por quatro anos. O banimento, logo após a Invasão Britânica, foi determinado pela Federação dos Músicos dos EUA. A alegação foi a pancadaria em que terminou um show em Sacramento, no qual os Kinks tocaram “You Really Got Me” por 45 minutos seguidos, revoltados por não terem recebido cachê.

Isolada do obrigatório mercado americano, Ray Davies mergulhou na temática sobre o cotidiano da classe média britânica, em parte, um autorretrato, desde sua infância como sétimo filho de uma família de oito irmãos – incluindo Dave Davies, o caçula e guitarrista solo dos Kinks.

Entre os álbuns “Face to face” (1966) e “Something else” (1967), e compactos avulsos desse mesmo período, Ray explorou sentimentos dúbios de insegurança, nas letras que contrapunham tardes ensolaradas e cerveja gelada a aluguéis vencidos e sintomas de depressão.

“Comecei a escrever canções sobre o lugar de onde eu vinha. Ninguém estava fazendo isso na época”, recorda Ray Davies. “The Village Green Preservation Society” refere-se a um parque fictício, em torno reúnem-se personagens como o homem que jogava críquete sob a chuva (“Do you remember Walter?”), a prostituta local (“Monica”) e o ciclista que jamais é alcançado (“Johnny Thunder”), representando, por metáforas e sutil ironia, antiquados costumes britânicos.

Um nostálgico espírito comunitário marca as faixas “Village Green” e “The Village Green Preservation Society”, em que Ray Davies canta sobre o bucólico parque e “todas as pessoas simples” que davam saudade, assim como “People take pictures of each other”, que fecha o álbum.

Já “Picture book” ironiza o envelhecimento explicitado pelas fotos em um álbum de família. Os 50 anos de idade do álbum reforçam esse pessimismo na faixa-extra “Time song”, nunca antes lançada. O próprio autor descreve o Village Green como “uma mistura de parques próximos à minha casa, na infância, no Norte de Londres” – região com bastante, embora fique na capital inglesa.

Com vendagem relativamente baixa, “The Kinks are The Village Green Preservation Society” foi precursor no formato de ter todas as suas canções formando uma história. Nisso, ele antecedeu “Arthur”, também dos Kinks, e “Tommy”, do The Who – ambos de 1969.

Houve álbuns conceituais anteriores, como “Pet sounds” (1966), dos Beach Boys, e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967), dos Beatles, mas eles não tinham canções com temática única. Lançado em maio de 1968, “Odgens’ nut gone flake”, dos também londrinos Small Faces, contava uma história única em seu lado B, mas tinha o lado A com canções de temas diversos.

O próprio Pete Townshend, guitarrista e compositor do The Who assina uma dedicatória na edição comemorativa de 50 anos de “The Kinks are The Village Green Preservation Society” . “Ray foi um dos primeiros a captar, definir e refinar essa linguagem de nós [ingleses]. Ele inventou um novo tipo de poesia e um novo tipo de linguagem para escrever música pop que me influenciou desde bem no início”, escreveu Townshend, citando o álbum como “a obra prima” dos Kinks.

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The Kinks celebram 50 anos de influente álbum, lançam edição especial e cogitam volta aos palcos (Foto: reprodução)

De geração mais recente, o ex-Oasis Noel Gallagher ressalta que “raramente álbuns em torno de um mesmo tema funciona, bem, o que os Kinks conseguem fazer”.

Em paralelo, durante entrevista em junho, Ray Davies afirmou que ele e o irmão Dave estavam cogitando em reunir, até o próximo ano, os Kinks, que não tocam juntos