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Tempo, tempo, tempo, tempo...

divulgação -
Cena de "La chambre", baseada em ilme homônimo e deinido pela cineasta como um "autoretrato misterioso"
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A cineasta belga Chantal Akerman (1950-2015) realizou mais de 40 filmes e, para celebrar este legado, o Oi Futuro inaugura na próxima semana a primeira exposição no Brasil sobre a obra da artista e sua inserção no universo das artes visuais. “Tempo expandido” é uma mostra inédita, com quatro videoinstalações espalhadas pelos três andares do centro cultural do Flamengo. Com curadoria de Evangelina Seiler e montagem supervisionada por Claire Atherton, uma das colaboradoras mais próximas da cineasta. O objetivo é aproximar o público da estética, do estilo e da visão peculiar da artista sobre o universo feminino.

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Dona de um olhar singular sobre o universo feminino e construtora de um ritmo que rompeu com vários dos cânones do cinema de seu tempo. “Há um ano que estou completamente dedicada ao universo de Chantal Akerman. Nosso objetivo é fazer com que a obra mais que singular desta cineasta chegue ao maior número possível de pessoas”, comenta a curadora.

As experiências de Chantal Akerman no campo das videoinstalações a levaram a participar de algumas importantes mostras internacionais, como a Documenta de Kassel (2000) e a Bienal de Veneza (2001 e 2015). Suas obras nessa área foram desenvolvidas, tendo sua filmografia como base e cenas avulsas filmadas posteriormente, que foram acrescentadas.

“In the mirror” (2007) exibe uma cena de um dos primeiros filmes da cineasta (“L’enfant aimé”, de 1971), na qual uma jovem grávida, em frente a um espelho, examina o próprio corpo, detalhe por detalhe. Já “La chambre (2012) foi criada a partir de imagens do filme homônimo, lançado em 1972. Em artigo publicado em 2014 na revista “Cahiers du Cinéma”, a diretora resumia assim o trabalho: “Trata-se tanto de um autorretrato misterioso da cineasta em seu lugar previsível, quanto o equivalente, para o seu cinema, a uma natureza morta: reunir seus motivos pessoais em uma descrição repetitiva para melhor descartá-los em seguida.”

A videoinstalação “Maniac summer“ (2009) é composta por imagens e sons gravados em Paris durante o verão de 2009. Não tem começo, fim ou mesmo um assunto específico em questão. A câmera é posicionada defronte a uma janela e fica ali rodando. Capta movimentos, ruídos da rua e até mesmo Chantal Akerman em seu cotidiano. A quarta obra é “Tombée de nuit sur Shanghai” (2009), com projeções de imagens do episódio homônimo dirigido pela cineasta para o filme “O estado do mundo”, que reuniu seis diretores de vários países. As imagens estáticas são características do estilo de Akerman: captam o porto, os barcos que cruzam o rio, as pessoas que passam, o horizonte, os luminosos publicitários e o cair da noite em tempo real na cidade chinesa. Tem pouco, ou melhor nenhum, enredo. Mas reflete poderosamente o ambiente urbano de uma megalópole.

Filha de imigrantes judeus poloneses, vítimas do Holocausto (a mãe, Natalia, foi a única da família a sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz), Akerman carregava a marca de um sofrimento presente, selado pelo silêncio - a mãe jamais tocava no assunto. Desde menina, Chantal conviveu com as tradições e rituais judaicos. A observação do cotidiano das tias a fez desenvolver uma compreensão peculiar das tarefas diárias de um lar. “Minha mãe não gostava muito que eu brincasse na rua, então eu olhava muito pela janela”, declarou, em entrevista à TV francesa, o que explica a essência de seu trabalho.

Aos 18 anos, largou a escola de cinema para fazer seu primeiro curta. Aos 25, estarreceria a Semana dos Realizadores em Cannes, em 1975, com a exibição do longa “Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, Bruxelles”. Sempre disse que seu encontro real com o cinema se daria na adolescência e por acaso: o título do filme “Pierrot le fou”, de Jean-Luc Godard, visto no cartaz, atraiu sua atenção. Entrou na sala de exibição e decidiu que o cinema era o seu destino.

O tempo, na obra de Chantal Akerman, é essencial para a percepção da narrativa. “Quando alguém diz: ‘vi um filme ótimo, nem senti o tempo passar!’, desconfio que essa pessoa está sendo roubada de algo muito precioso. Em meus filmes, quero que a pessoa sinta o tempo passar e tudo que essa passagem traz consigo”, dizia.

Seu cinema é feito de quadros aparentemente estáticos, mas que revelam narrativa intensa, de tomadas longas, sem cortes rápidos. Se o personagem sai da cena, a câmera não o acompanha. E a cena fala por si. O momento do corte acontece na hora que tem de acontecer. É um mergulho no escuro que acaba por revelar uma clareza impressionante. “Em cada filme ou instalação, era como se fosse a primeira vez. Não tínhamos regras, medos ou barreiras. A cada vez retornávamos a uma nova aventura sensorial e intelectual. Nossas trocas eram muito simples; falávamos pouco, como se palavras em excesso pudessem vir a destruir algo. Costumávamos dizer ‘é bonito’ ou ‘é forte’. Gostávamos de certas palavras e Chantal dizia que tínhamos de ser drásticas, sem fazer concessões.”, conta Claire Atherton, sua colaboradora por 35 anos na sala de montagem.

Serviço

CHANTAL AKERMAN – TEMPO EXPANDIDO

Oi Futuro (Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Tel: 3131-3060)

Abertura: 26/11, às 19h - Visitação: 27/11 a 27/1 – Ter. a dom., das 11h às 20h – Entrada franca