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Shows, teatro, mostra de cinema e festivais celebram hoje o Dia da Consciência Negra em várias regiões da cidade

Divulgação -
Afro Coltrane
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No templo do samba, é preciso pisar com elegância. A Galeria da Velha Guarda da Portela avisa: é proibido chinelo na festa dos 50 anos na quadra da azul e branco de Madureira. Hoje, Dia Nacional da Consciência Negra, o carioca pode passear pelas mais diversas linguagens — do jazz à mostra de cinema e sessão de teatro — dedicadas à herança cultural da África no mundo.

“Paulo da Portela exigia que o sambista andasse bem trajado. Ele dizia: pés e pescoços ocupados. O samba já era marginalizado, então ninguém podia se apresentar maltrapilho”, lembra o portelense Monarco, memória viva da escola. Já o Festival Global Cultural dos Povos Tradicionais Africanos e Afrodiaspóricos promove, na Biblioteca Parque e no Teatro João Caetano, uma série de palestras e apresentações musicais.

“Espero que nossas negras histórias possam ser contadas dentro e fora de nossas comunidades. Que a população brasileira entenda que não podemos pensar na comunidade negra apenas em novembro”, resume o babalaô Ivanir dos Santos, representante do Grupo Pan Africano de Pesquisa Estratégica e Política.

Afro Coltrane

Macaque in the trees
Afro Coltrane (Foto: Divulgação)

Sob o comando do baterista Roberto Rutigliano, argentino radicado no Rio de Janeiro, o quinteto completado por Tiago Didac (percussão), Sérgio Barrozo (contrabaixo acústico), Marcelo Magalhães Pinto (piano) e Tino Junior. (sax) toca a partir das 20h de hoje na Audio Rebel (Rua Visconde de Silva, 55, Botafogo), em um show que homenageia John Coltrane, mais especificamente músicas repertório sob influência de música africana e oriental.

Afro Coltrane foi concebido para lembrar os 50 anos de morte do saxofonista, que se completaram no ano passado e, em abril, teve, no sax, o consagrado Nivaldo Ornelas, hoje substituído por Tino Junior na missão de emular o americano nascido em 1926, na cidade da Carolina do Norte batizada com o shakespeariano nome de Hamlet e morto prematuro aos 41 anos, vítima de câncer no fígado.

Coltrane mergulhou em estudos sobre religiões orientais e história da África, que o influenciaram em composições como “Lonnie’s Lament” e “Equinox” – respectivamente dos álbuns “Crescent” e “Coltrane’s Sound”, ambos de 1964, e previstas para hoje. O set list do quinteto também tem “Blue trane” e “Afro blues” e ainda pode incluir “Giant steps” e outros clássicos. “Coltrane criou alguns dos projetos mais inovadores e expressivos da história do jazz”, elogia Rutigliano. Os ingressos custam R$ 30 e podem ser comprados em www.sympla.com.br, antecipadamente, lembrando que a Audio Rebel tem apenas 90 lugares.

Festa na azul e branco

Macaque in the trees
Sambistas de todas as partes do Rio vão se encontrar hoje em Madureira para um baile gratuito em homenagem aos baluartes (Foto: Bruno Kaiuca)

É esperado um pequeno exército de 1,5 mil sambistas vindo de todas as partes do Rio de Janeiro. Em missão de paz e muita música. Não é para menos. A quadra da Portela receberá representantes de todas as escolas de samba para celebrar os 50 anos de fundação da Galeria da Velha Guarda da Portela. Guardiões da sede histórica da agremiação, em Oswaldo Cruz, eles preservam boa parte da memória portelense. “Temos 86 membros, reformamos a quadra da Portelinha, onde cultivamos uma convivência maravilhosa”, conta o presidente da Galeria da Velha Guarda, Roberto Camargo.

Será realizado um grande baile comandado pela banda Brasil Show. O encontro é parte do calendário oficial da Associação da Velha Guarda das Escolas de Samba, com o tradicional encontro de bandeiras às 18h. E o aviso é verdadeiro: não se pode entrar de bermuda, camiseta e nem chinelo. A quadra da Portela fica na Rua Clara Nunes 81, em Madureira. Às 13h. Entrada Franca.

Sorriso de Teresa

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Teresa Cristina: repertório de sambistas clássicos (Foto: Divulgação)

A cantora Teresa Cristina sobe hoje ao palco do Teatro Riachuelo Rio, pela primeira vez, acompanhada do grupo Samba Que Elas Querem, com o show “Um sorriso negro”, cantando um repertório somente de compositores negros. O repertório do show traz clássicos de grandes nomes do samba, como: Dona Ivone Lara, Lecy Brandão, Jovelina Pérola Negra, Wilson Moreira, Candeia, Cartola, e sucessos como: “Alvorada”, “Axé de Ianga”, “Zé do Caroço” e Sorriso negro. “A história do negro no Brasil se mistura com a história do samba, e eu tentei traduzir essa constatação no repertório escolhido!” explica a sambista.

Considerada uma das vozes de maior destaque na cena do samba carioca, Teresa celebra essa data significativa e histórica com um palco todo feminino: “A mulher precisa resgatar esse protagonismo e deixar esse posto de coadjuvante entregue pela história. O meu encontro com elas aconteceu muito naturalmente. Vai ser lindo!” afirma a cantora, que se apresenta ao lado do grupo Samba que Elas Querem, composto por mulheres musicistas. Teatro Riachuelo Rio (R. do Passeio 40 - Centro; Tel.: 3554-2934). Hoje, às 20h. De R$ 50 a R$ 110.

Cisne Negro

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Mercedes foi primeira bailarina negra do Theatro Municipal (Foto: Divulgação)

A montagem “Mercedes”, encenada para cerca de três mil pessoas em uma só apresentação, em Copacabana, está em cartaz até hoje na Caixa Cultural Rio de Janeiro/Teatro Arena (Av. Almirante Barroso, 25 - Centro; Tel.: 3980-3815) após percorrer diversos festivais.

O espetáculo mescla diversas linguagens, como teatro, dança, música e literatura, para contar a trajetória da bailarina Mercedes Baptista, ícone da história da cultura negra no País e pioneira da dança moderna brasileira. Como texto de Sol Miranda e Cássio Duque e direção de Juracy de Oliveira e Thiago Catarino, a peça é a estreia da Cia. Emú de Teatro Negro. Eles mergulharam no universo de criação da artista, primeira mulher negra a compor o corpo de baile do Theatro Municipal. R$ 30. Às 19h.

Revolução

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Filme "Quilombo das Brotas": produção brasileira (Foto: Divulgação)

Quem quiser conhecer mais sobre a produção audiovisual dos países africanos durante os processos de independência e revolução terá, até o dia 2 de dezembro, um panorama rico de todo o continente na mostra “África(s). Cinema e memória em construção”, com curadoria da pesquisadora e professora Lúcia Ramos Monteiro. São 42 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, de diversos países e épocas. Além das exibições, serão realizados debates.

Hoje, às 16h, a atração é “Spell Reel”, filme de 2017 da diretora Filipa César, uma co-produção de Guiné-Bissau, Portugal, França e Alemanha. Será comentada pela curadora da mostra Lúcia Ramos Monteiro e pelo pesquisador Alexsandro de Sousa e Silva. Já às 18h30, tem exibição da produção “Em Bissau, o carnaval”, de Sarah Maldoror, de filme de Guiné-Bissau, e de “Morte negada”, de 1988, da diretora Flora Gomes, co-produção de Guiné-Bissau e França, seguida de debate com participação do pesquisador Alexsandro de Sousa e Silva.

Amanhã, a programação, às 19h, é “Monangambée”, curta de Sarah Maldoror, co-produção de Angola e França, “Fogo, uma ilha em chamas”, também da cineasta, “Prefácio a fuzis para Banta”, de Mathieu Kleyebe Abonnenc, “Kbela”, produção brasileira de Yasmin Thayná. No encerramento, dia 2, às 18h, tem exibição de “Quilombo das Brotas”, da brasileira Renata Martins. Na Caixa Cultural Rio de Janeiro (Av. Almirante Barroso, 25, Centro).

Religiosidade e dança

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O espetáculo "Tamborzada" é inspirado em batidas do coração (Foto: Divulgação)

O Festival Global Cultural dos Povos Tradicionais Africanos e Afro-diaspóricose promove até amanhã encontros e apresentações musicais sobre cultura negra. Na Biblioteca Parque Estadual (Av. Presidente Vargas, 1261), tem mesa redonda às 10h com tema “Herança da Espiritualidade Africana” e às 14h sobre “Saúde e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Às 16h, a atração é a roda de conversa com o Ogã Bangbala, que se dedica a propagar as tradições de matriz africana, como o candomblé, há mais de 70 anos.

Já no Teatro João Caetano, das 19h às 21h, o CORPOralidades Negras reúne performances de diversos artistas. Já amanhã, às 19h, a atração é o espetáculo Tamborzada, inspirado nas batidas do coração. Com a Companhia Folclórica do Rio - UFRJ, que comemora 30 anos.

Bruno Kaiuca - Sambistas de todas as partes do Rio vão se encontrar hoje em Madureira para um baile gratuito em homenagem aos baluartes
Divulgação - Teresa Cristina: repertório de sambistas clássicos
Divulgação - Mercedes foi primeira bailarina negra do Theatro Municipal
Divulgação - Filme "Quilombo das Brotas": produção brasileira
Divulgação - O espetáculo "Tamborzada" é inspirado em batidas do coração