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Liberté, égalité & carioquê

Livro resgata histórias e imagens de lugares de memória sob a influência francesa

reprodução -
Liberté, égalité & carioquê
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Desde a sua fundação, em 1565, a muy leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro nasceu ligada à França. O povoado que se ergueu espremido entre montanhas e o mar para defender a colônia portuguesa de invasores franceses tornou-se uma das maiores cidades do mundo, mas nunca deixou de flertar com a pátria de François de Villegagnon, que sonhou em erguer aqui a chamada França Antártida, nos mais variados aspectos: arquitetura, filosofia, política, costumes, gastronomia, cultura… Organizado pela historiadora Lorelai Kury, o livro “Lugares de Memória: a França no Rio de Janeiro” (Andrea Jacobsson Estúdio) propõe um passeio em 12 capítulos por esta forte influência.

Macaque in the trees
Liberté, égalité &carioquê (Foto: reprodução)

Como se não bastassem as inúmeras edificações ainda de pé, como o Palácio Capanema, de Le Corbusier, ainda mais significativas são as influências que moram em cada detalhe, quase invisíveis aos olhares menos atentos. Desde as tentativas de colonização no século XVI até a gastronomia contemporânea, passando pela invasão napoleônica de Portugal, em 1807, e pelos impulsos libertários de 1968, os exemplos de como a França exerce influência sobre os cariocas são abrangentes. “Desde 2008, quando se celebrou os 200 anos da chegada da Corte ao Rio, comecei a olhar a cidade de outra forma e identificar alguns espaços onde se pudesse puxar um fio de memória para contar a história da cidade”, argumenta Lorelai Kury, que reuniu textos seus e de mais quatro autores e um ensaio fotográfico de Rogério Reis que sugere um roteiro de visitação desses vestígios.

Roteiro eclético

Rico em informação e imagens, “Lugares de memória: a França no Brasil” tem capítulos que reproduzem a guerra travada entre franceses e portugueses pelo controle da cidade; do belíssimo Petit Trianon, construído para sediar a Exposição Universal de 1922 e que hoje pertence à Academia Brasileira de Letras; dos jardins do paisagista Auguste François Marie Glaziou, que encantam os frequentadores da Quinta da Boavista. Diretor de Parques e Jardins da Casa Imperial, Glaziou também comandou o trabalho de replantio da Floresta da Tijuca.

Há destaque também para alguns personagens que fizeram parte da elite carioca, como Louis Pharoux, que ergueu um suntuoso hotel junto ao Cais da Praça 15 no século XIX. E conta o episódio da demolição da Academia Imperial de Belas Artes, para dar lugar à modernização da cidade, cuja única lembrança é o pórtico que foi levado para o Jardim Botânico.

Macaque in the trees
m dos cartões-postais da cidade, os jardins da Quinta da Boa Vista foram projetados pelo paisagista Auguste François Marie Glaziou, que trabalhou para D. Pedro II (Foto: Fotos: Rogério Reis)

De acordo Lorerai Kury, elencar apenas12 lugares de memória da influência francesa na cidade foi um enorme exercício de síntese. “Escolhemos esses cenários e histórias, mas poderiam ser 150”, destaca a organizadora. O material inconográfico da publicação é um detalhe à parte. Fotografias e gravuras do Rio dos séculos XIX e XX revezam-se com o ensaio fotográfico de Rogério Reis, que estimula passeios às locações, que, felizmente, permanecem de pé, e belas imagens que realçam a memória afetiva de uma cidade que já foi coquette. Aquarelas, mapas e até mesmo detalhes de trabalhos em azulejaria retratam um Rio desejado pelos franceses desde o tempo dos corsários.

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Serviço

LUGARES DE MEMÓRIA: A FRANÇA NO RIO DE JANEIRO

Organização: Lorelai Kury. Autores: Alda Heizer, André Nogueira,

Letícia Pumar, Lorelai Kury e Tânia Bessone. Fotos: Rogério Reis

Editora: Andrea Jacobsson Estúdio, 336 págs. R$ 120

Fotos: Rogério Reis - m dos cartões-postais da cidade, os jardins da Quinta da Boa Vista foram projetados pelo paisagista Auguste François Marie Glaziou, que trabalhou para D. Pedro II