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República Tcheca devolverá cidadania a Milan Kundera

AFP -
Radicado na França desde 1975, escritor foi perseguido e teve suas obras proibidas em seu país natal
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Em viagem pela França, o primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis, anunciou no sábado que propôs ao escritor tcheco naturalizado francês Milan Kundera devolvê-lo a nacionalidade tcheca que lhe foi retirada pelo regime comunista, o qual perdurou no país entre o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e 1989, ruindo após a queda do Muro de Berlim e de toda a Cortina de Ferro, em consequência.

“Certamente mereceria ter novamente sua cidadania”, disse Babis em Paris, por ocasião das comemorações do centenário do armistício de 1918 – que marcou o fim da Primeira Guerra Mundial –, de acordo com a agência tcheca CTK.

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Radicado na França desde 1975, escritor foi perseguido e teve suas obras proibidas em seu país natal (Foto: AFP)

Kundera, de 89 anos, radicou-se na França em 1975. Nessa época, suas obras eram proibidas em seu país natal – então parte da Tchecoslováquia – e sua vida privada estava sob o controle constante da polícia secreta StB.

O regime comunista da Tchecoslováquia retirou oficialmente a cidadania dele, e de sua mulher Vera, em 1979.

Antes disso, entretanto, o autor sofreu diversos casos de censura e perseguição. Em 1950, foi temporariamente forçado a interromper seus estudos por razões políticas, quando ele e outro escritor – seu contemporâneo Jan Trefulka (1929-2012) – foram expulsos do Partido Comunista Tcheco por “atividades antipartidárias” – episódio que inspirou Kundera a escrever seu romance “A brincadeira”, lançado em 1967. Naquele ano, ele já havia sido readmitido no PC, mas acabaria sendo definitivamente em 1970, dois anos depois de se envolver na Primavera de Praga – tentativa de liberalização política e econômica que foi duramente reprimida pela União Soviética.

Cidadão francês desde 1980, foi nessa época que Milan Kundera escreveu seu romance de maior sucesso, “A insustentável leveza do ser”, de 1983, que, cinco anos depois, foi adaptado para o cinema, sob direção de Philip Kaufman, com Daniel Day-Lewis, Lena Olin e Juliette Binoche no elenco, ganhando duas indicações ao Oscar.

Desde então, Milan Kundera nunca mais autorizou adaptações cinematográficas dos seus romances.