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Em seu segundo longa, diretora chilena valoriza emoções e deixa público tirar suas próprias conclusões

Bruno Kaiuca -
Dominga Sotomayor, uma das diretoras convidadas do Festival do Rio, explora as relações complicadas entre diferentes gerações em seu filme
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Situações do cotidiano que, à primeira vista, parecem não ter muita importância são a mola emocional do longa “Tarde para morrer jovem”, da chilena Dominga Sotomayor. A diretora, uma das convidadas do Festival do Rio, onde seu filme está na programação da Première Latina, diz que sua história é ambientada em 1989, num período de transição, quando o general Pinochet já havia deixado o governo, mas ainda não se tinha a segurança em relação à volta da democracia. “Mesmo assim, optei por não datá-lo e fazê-lo menos nacionalista. São situações que podem ocorrer em qualquer tempo e em qualquer lugar”, explica a diretora e roteirista, em entrevista ao JORNAL DO BRASIL.

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Dominga Sotomayor, uma das diretoras convidadas do Festival do Rio, explora as relações complicadas entre diferentes gerações em seu filme (Foto: Bruno Kaiuca)

A história começa no último dia de aulas, quando algumas famílias viajam para um lugar afastado da cidade, em meio à floresta. Os pais discutem questões sobre iluminação, encanamento e construções das casas, enquanto os jovens conversam e tocam violão e as crianças brincam de explorar o local de bicicleta, como se cada grupo fosse independente e, ao mesmo tempo, integrado aos demais. “Não há uma grande história. A ideia foi capturar o emocional daquele grupo vivendo em meio à natureza, explorando as relações complicadas entre gerações: a sabedoria dos pequenos, a torpeza dos adultos, a melancolia do crescimento. Sempre de forma aberta e com liberdade, algo meio naïf”, diz. O filme não deixa claro se os planos das famílias envolvem apenas passar férias nas casas de campo ou fundar um tipo de sociedade alternativa. “Eu gosto desse espaço em aberto para que o público complete e se conecte com o que está acontecendo”, comenta ela sobre o filme que já estreou na Argentina e tem previsão de estrear no Chile e no Brasil em maio do próximo ano.

Dominga diz que a trilha sonora é o que há de mais concreto em seu filme e o que pode situá-lo cronologicamente - pelo menos para o público que conhece o pop/rock chileno... “Ao vincular a música aos personagens, consigo expressar melhor as emoções, às vezes funcionando como uma explosão”, justifica. Muitos desses momentos marcam as cenas de Sofia, que tem 16 anos e se apaixona por Ignacio, mais velho, e, ao mesmo tempo, é alvo do amor de Lucas, da mesma idade. Ela ainda vive o drama da separação dos pais. “Sofia acha que quer ir embora com a mãe, que sequer aparece, mas, no fundo, está muito insegura. E o pai é um personagem interessante, pois parece que é ausente, mas, na realidade, está sempre por perto”, destaca. Uma das cenas mais ternas do filme, aliás, nem tem diálogo. É quando o pai a encontra numa cachoeira, triste, e apenas coloca um agasalho em suas costas para aquecê-la.

“Tarde para morrer jovem” é o segundo filme de Dominga que, ao lado de amigos cineastas, criou o Centro de Cine Y Creacíon em Santiago há um ano. “A ideia é que seja um espaço de exibições acessíveis de filmes chilenos e estrangeiros e de formação profissionalizante”, conta ela, que considera o projeto uma saída ambiciosa dentro do mercado cinematográfico chileno, que muito se assemelha ao brasileiro: dificuldade na distribuição e uma ocupação quase total das salas por produções hollywoodianas.

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