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Festival do Rio: Invasão bárbara no coração do público

Divulgação -
Parte da trilogia iniciada em 1986 , "A queda do império americano" surpreendeu o público do festival carioca
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Medalhões midiáticos como Lars von Trier (com seu “A casa que Jack construiu”) e Gus Van Sant (com “A pé ele não vai longe”) lotaram cinemas no fim de semana, como se esperava, porém, foi uma produção canadense de um cineasta outrora cultuado - mas há tempos encostado no banco de reservas de cineastas autorais – a atração que mais surpreendeu o Festival do Rio, em seus primeiros dias. “A queda do império americano”, de Denys Arcand, foi acolhido com aplausos por onde passou, virou assunto nas rodinhas cinéfilas, tornou-se filme obrigatório no boca a boca da maratona carioca. É a terceira parte de uma trilogia iniciada em 1986 pelo historiador e cineasta, com “O declínio do império americano”, complementada por “As invasões bárbaras”, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2004. Neste conto moral sobre os efeitos do liberalismo, um intelectual que trabalha numa transportadora se apropria de duas malas com uma fortuna em dinheiro roubado. Com a ajuda de uma garota de programa de luxo e de um ex-presidiário expert em economia, ele vai arrumar um meio de usufruir da bolada sem cair na malha fina da polícia federal. Filme algum foi mais bem falado no Festival. Tem mais uma sessão dele neste sábado, às 21h20, no Estação NET Ipanema.

“Não tenho noção de qual seja meu papel no cinema e nem me preocupo com isso, pois só filmo quando tenho a dizer coisas que possam ajudar o público a crescer e sair da letargia”, disse Arcand por email ao JB.

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Parte da trilogia iniciada em 1986 , "A queda do império americano" surpreendeu o público do festival carioca (Foto: Divulgação)

Logo na cola de Arcand, entre os preferidos dos cariocas, despontou o drama sobre “cura gay” “O mau exemplo de Cameron Post”, de Desiree Akhavan, no qual uma jovem estudante de orientação homoafetiva (Chloë Grace Moretz, em madura atuação) é forçada a “sarar” de seus pecados em uma colônia de “desgayzação”. Sua projeção, no domingo, foi pontuada por uma salva de gargalhadas no compasso das tiradas irônicas da protagonista. De CEP argentino “A quietude”, melodrama carregado na sacarose do cronista da violência Pablo Trapero, roubou corações com o conflito de duas irmãs de temperamentos distintos acossadas pela ligação de seu comatoso pai com crimes da ditadura. O também argentino “Vermelho sol” virou um ímã de espectadores também, apoiado na fotografia requintada de um artesão pernambucano da imagem: Pedro Sotero. Foi ele que fotografou “Aquarius” (2016).

Em sua segunda semana, o Festival do Rio já tem um novo candidato ao foco dos holofotes do público: o colombiano “Pássaros de Verão”, de Cristina Gallego e Ciro Guerra, casal por trás do cult “O abraço da serpente” (2015). Aqui, os dois se debruçam sobre a gênese do tráfico de drogas em seu país, sob uma ótica ameríndia.

O Festival do Rio termina neste domingo, com a entrega do troféu Redentor, tendo os .docs “Clementina”, de Ana Rieper, e “Torre das Donzelas”, de Susanna Lira, como as atrações de melhor boca a boca popular: um fala sobre a sambista Clementina de Jesus, o outro revê os Anos de Chumbo a partir de mulheres que combateram o regime militar.

*Roteirista e crítico de cinema